segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Nick Coppola

Ontem estava praticando um dos meus esportes favoritos, que para informação de todos é trocar de canal, quando me deparei com o logo da Tri-Star anunciando o começo de um filme. Era As Torres Gêmeas e decidi assistir. Desde que o filme foi lançado eu imaginava que ele ficaria bem na minha coleção sobre o 11 de Setembro, que inclui os documentários 9/11 e Fahrenheit, além do filme “United 1267” (sei lá o número da porra do vôo!). Eu estava sem sono mesmo, então deitei e relaxei.
Tudo bem, o filme é com o meu "ídolo maior", o aclamado(?!) Nick Coppola. Ainda bem que ele mudou de nome artístico, se bem que o antigo combinava mais com seu estilo cafona de atuar. Mas o filme é o assunto então vamos a ele. Não é ruim, embora muito limitado. Você conhece a história então eu posso e
ntrar em detalhes sem estragar futuras surpresas caso resolva assistir depois – por sua conta e risco. Tudo gira em torno de uma delegacia portuária de NY a qual pertencem os dois protagonistas. Nick é o sargento e um latino é seu comandado. Ambos ficam soterrados depois que as torres desabam porque Nick resolve organizar um pequeno grupo de 6 homens para subir pelas torres quando elas ainda estão em chamas. Porque Nick faz isso? Porque Nick estivera envolvido no resgate das pessoas no atentado de 93 no mesmo WTC, havia organizado planos de evacuação e conhecia todos os atalhos dos 5 prédios principais do complexo. Nada mais natural. Mas por isso mesmo é que achei o filme limitado. Concentra-se demais inicialmente numa delegacia, depois num grupo de policiais e mais adiante em apenas dois, numa história onde centenas de profissionais estiveram envolvidos. É claro, o filme é sobre eles, mas em vários momentos fica parecendo que aqueles 6 policiais resolveram bancar os X-Men e salvar a América. Tudo bem, estou sendo exagerado.
O roteiro não é ruim, vai logo ao assunto depois de uma breve apresentação dos personagens principais e suas famílias, eles entram, as torres caem e pronto. Não se perde muito tempo mostrando aviões explodindo ou qualquer outra cena que já foi mais do que desgastada pela imprensa. Todo mundo sabe o que aconteceu e como aconteceu porque todos estavam assistindo ao vivo em 2001. O problema começa quando os personagens estão embaixo dos escombros. O que a princípio poderia ser uma vantagem, já que com uma viga de aço e concreto sobre o peito fica muito difícil falar, nosso querido Nick teria suas falas reduzidas em muito e teríamos apenas que suportar suas caras e bocas de sofrimento. Mas como duas pessoas soterradas poderiam fazer o filme ser relativamente cansativo – até porque o resgate levou quase 24 horas – eles optaram na montagem por realizar mini-flashbacks das vidas dos policiais. É aí que o filme toma o rumo de dramalhão, embora um drama real, onde se acompanha o desgaste da família, os problemas pessoais dos policiais e a dura realidade do trabalhador de classe média americano. Finalmente os dois são resgatados e tudo termina bem. Fim.
Eu continuava sem sono e fiquei pensando sobre o filme. Entre mil coisas pensadas, uma me fez parar e rir: eu finalmente tinha entendido o Nick. Incrível como depois de tantos anos criticando e fazendo piada em cima dele eu finalmente pude compreendê-lo. E você não imagina a conclusão que tirei depois de muito refletir. Acho que ninguém jamais pensou nisso. Sempre achei que Nick era um péssimo ator, que era careteiro – e por isso seu único bom papel havia sido em Face Off – e que não entendíamos como e porque Hollywood de certa forma gostava dele. Pois eu vou revelar esse mistério. Nick é chato. É isso mesmo, Nick é um cara chato pra cacete. No sentido de enfadonho, maçante. Pra usar a palavra que melhor define na língua do próprio Nick: boring. Reflita comigo e relembre alguns de seus filmes, sempre colocando de lado o excelente Face Off que é uma óbvia exceção. Jogue fora os preconceitos e reconstrua sua opinião a partir de meus argumentos.
Nick convence em seus papéis. Você acredita nele, ele entra no personagem. Em Cidade dos Anjos, por exemplo. Nick é um anjo e nos convence que é. Olha docemente como um e ao mesmo tempo nos passa o drama interno que lhe corrói. É possível sentir o amor verdadeiro que ele tem pela Meg. Você não duvida que ele é um anjo em conflito. Mas ele é um anjo chato. Insuportável. O outro anjo, melhor amigo dele, perde a paciência em vários momentos. Quer outro exemplo? O filme Um Homem de Família. Nick vive com plenitude o papel de um executivo frio e insensível que se vê transportado para outra realidade, numa família calorosa onde ele inicialmente se sente um estranho e depois se encanta com o amor que o cerca. Mas tanto o executivo como o marido de classe média são extremamente chatos. Pense bem nisso. Um outro exemplo, para você não me acusar de estar analisando apenas os papéis dramáticos. Em A Rocha, ação pura, Nick é um policial de escritório. Mais precisamente de laboratório forense. Não pegava em armas desde a academia e se vê obrigado a partir para a ação. Lembra-se como ele era tratado por todos? Ele era colocado de lado, motivo de piada pelas costas. Era o cara chato do departamento. Ele convence como o policial fora do ninho. O cara errado no lugar errado. Você sente nele o drama de ter que enfrentar seus medos e superar os obstáculos. Só que ele é chato. Quer mais um filme de ação? Que tal Conair? Nick é um prisioneiro que está a caminho da liberdade e entra num avião com os mais variados tipos de psicopatas. Todos os bandidos são interessantes, por sua violência ou personalidades. Nick é o único chato. Nenhum dos presentes no vôo, policiais ou bandidos, vai com a cara dele. E quando todos trabalham num plano para escapar, Nick é o único a tentar atrapalhar.
Em As Torres Gêmeas ele novamente vive um policial, um sargento experiente em atentados, respeitado pelo seu conhecimento. Mas é claramente um policial chato. O cara que todo mundo ouve no departamento, segue suas ordens e até se oferece voluntariamente para a missão suicida que ele propõe. Ninguém duvida da capacidade dele. Nem o espectador. Mas ninguém tem dúvida de que ele é um cara chato pra cacete. Até nos momentos de flashback em família, percebe-se que ele é um marido chato, um pai chato. No final do filme, quando o latino é resgatado e Nick ainda fica preso por mais algumas horas, já no limite de suas forças, você se percebe torcendo para que ele não resista e morra. Ou pelo menos você não se importará caso ele morra, afinal o latino gente boa já foi salvo. Se você prestar bastante atenção na cena em que Nick sai do buraco, perceberá que até os policias e paramédicos não apresentam o mesmo entusiasmo que demonstraram quando salvaram o latino. Tudo bem, estou exagerando. Talvez eu esteja sendo chato. Mas assista e comprove. E assista aos outros também. Você vai entender o que estou dizendo.
Depois de pensar isso tudo, me caiu a ficha. Esse é o segredo do Nick. Seus personagens são chatos porque ele é um cara chato, muito chato. Por isso você não o vê em colunas sociais, em festas ou programas de TV. Ninguém o convida porque ele é chato. Você conhece o tipo. Todo mundo tem ou teve um amigo assim. Aquele que quando é convidado, o fazem apenas para evitar saias justas sociais ou porque alguém teve pena dele. Esse é o Nick. Por isso Hollywood “cuida” dele com tanto carinho. Ele é o chato que até é um bom ator. Em alguns casos pensam nele logo de cara quando aparece um papel de algum personagem chato, como em Cidade dos Anjos. Em outros casos pensam nele por causa de suas caretas, como em Face Off. Mas a verdade é que todos sentem por ele, aquilo que sentem por todo chato. Uma mistura de tédio com pena. O cara não é má pessoa, só não é uma companhia legal. Não dá para bater papo com ele por mais de 20 minutos sem ficar de saco cheio mas, ora bolas, ele não é mau. Só é chato. Muito chato.