sexta-feira, 14 de março de 2008

Big Brother Brasil

Sou fã de Big Brother. Pronto, falei. Assisto, torço, voto, comento e me envolvo. Sei que o Big Brother é como o Flamengo, ou você ama ou odeia. Neste segundo time temos todos os críticos ferrenhos, que abominam o programa sob os argumentos de que ele nada acrescenta e que é um programa vazio, onde pessoas de cabeça vazia ficam expostas para uma audiência com a cabeça ainda mais vazia. Respeito esta opinião, mas não posso compartilhar dela.

Não tenho a cabeça vazia. Adoro literatura, conheço pintura e sou cinéfilo de carteirinha. Leio de Machado de Assis a Paulo Coelho, de Jorge Amado a Dan Brown. Sei a diferença entre Van Gogh e Monet, mas prefiro Michelangelo. No cinema meu gosto só não é mais eclético porque não gosto de cinema iraniano. Portanto, vazia minha cabeça não é. No entanto gosto de Big Brother. Entre as emoções falsas que a novela me proporciona e os dramas reais de pessoas comuns, eu fico com a segunda opção. Eu sei que muitos dirão que o Big Brother também é feito de emoções forçadas e construídas, com pessoas direcionadas e instruídas para reagir de forma a conquistar a audiência. Eu também acreditava que isso pudesse ser em parte verdade. Assisti a sete edições do programa com essa pulga atrás da orelha. Este ano, ao longo da oitava temporada, tive pela primeira vez a chance de acompanhar o programa em pay-per-view e pude perceber o quanto esta “Teoria da Conspiração” é falsa. E se eu tivesse parado para pensar por alguns minutos mais profundamente sobre tudo o que envolve o programa, perceberia que jamais seria necessária uma “manipulação” dos participantes.

O ser humano é complexo o bastante, com milhões de nuances, qualidades e defeitos, que por si só já tornam o convívio social um eterno desafio. Valores, objetivos, educação, criação, formação, hábitos e vícios que nos tornam únicos em comparação com qualquer outro. E estou falando dos que estão fora da casa. Porque lá dentro estas diferenças tomam proporções maiores. O confinamento tem um efeito devastador na cabeça de qualquer pessoa e lá dentro isso se percebe de forma mais clara e mais intensa porque existe a pressão das câmeras, da certeza de que a vida nunca mais será a mesma e ainda por cima a disputa por algo que nos torna animais ferozes: dinheiro. Mas ainda assim os críticos dirão: “Ok, não há manipulação através de diretrizes passadas aos participantes, mas o que você me diz da edição das imagens que vão ao ar na TV aberta?”. Pois eu lhes digo que, pelo menos nesta temporada em que pude assistir pelos dois canais, não notei qualquer tentativa de orientar a audiência com o objetivo de se criar vilões ou mocinhos. Até porque seria subestimar a percepção do telespectador. Lá dentro, assim como na vida, ninguém é só herói ou bandido.

Mas este texto não é para os críticos, porque estes continuarão no seu papel, ainda que os maiores intelectuais do país se declarassem fãs do programa (e estou certo de que muitos o são). Escrevo porque talvez esta tenha sido para mim a edição mais importante do Big Brother. Ela coincidiu com o momento em que estou morando sozinho pela primeira vez na minha vida, tendo uma vida social menos ativa do que em outros momentos e o Big Brother foi para mim acima de tudo uma grande companhia. Se em outras edições eu chegava ao final me sentindo íntimo de muitos deles, nesse eu posso dizer que em muitos momentos me senti dentro da casa, tamanho foi meu envolvimento emocional com os participantes. E olha que esta edição não foi das melhores em termos de emoção. E por este motivo achei que deveria escrever e dizer para aqueles que pensam no Big Brother como um programa vazio porque não tem nenhuma utilidade social, outros na TV são tão ou mais vazios do que ele. E muitos não despertam metade das críticas que ele. Para aqueles que criticam o programa por achar que ele não tem nenhuma utilidade social eu aponto uma. Assim como as novelas e outros tantos programas, o Big Brother é um bom remédio para momentos de solidão. Através dele, muitas pessoas passam por emoções que não viviam há muito ou que talvez nunca tivessem a oportunidade de viver. Tanto quanto as novelas, o Big Brother alimenta uma parte do ser humano que é eternamente carente. O alimento da alma: emoções. E este ano eu me empanturrei. Que venha a próxima temporada!