quarta-feira, 16 de junho de 2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Onze Homens e Um Destino


E finalmente chegou mais uma Copa. Quem me conhece, sabe que não sou chegado em futebol. Mas a Copa do Mundo me transforma. Sou daqueles que faz o possível pra assistir todos os jogos. Desde que me entendo por gente é assim.  Nasci em 71, ano seguinte ao Tri de Pelé. Ou seja, nasci e vivi na longa entressafra de títulos, período no qual o meu querido Flamengo nutriu minha sede com tudo o que se possa imaginar em forma de caneco.

Minha primeira lembrança em Copas remonta a 78, e não me lembro de quase nada, a não ser o fato de ter passado a odiar os argentinos ali (apenas em Copas, que fique bem claro). Mas minha paixão por Copas brotou mesmo em 82, ano em que literalmente chorei com a eliminação daquela que teria sido a seleção “perfeita”. Em 86, nova decepção, vendo Zico ser imolado no cruel altar das penalidades máximas. De 90 lembro pouco, até porque algumas coisas é melhor esquecer mesmo. Veio 94 e finalmente vivi a emoção indescritível de ser campeão mundial. Quando 98 chegou, eu estava num momento profissional complicado, mas mesmo assim estava lá grudado na TV, sofrendo com a derrota previsível.  Em 2002 aderi à Família Scolari com todo o meu coração e não me arrependi. Veio 2006 e confesso que não me empolguei com aquela seleção. Assim como não confio muito nessa que estreia amanhã. Mesmo assim torcerei como um louco, como sempre. Como nunca!

Porque eu não tenho vergonha de ver meu patriotismo exacerbado em Copas. Sinceramente não acho feio esse ufanismo que toma conta do país a cada quatro anos. Será que é tão feio ser patriota quando você vê seu país no topo de alguma coisa? Ser ufanista quando o mundo todo está de olho em seu país, temendo a superioridade histórica, é reprovável?

Não para mim. Os norte americanos também se ufanam por razões diferentes. Para eles, cujo país domina econômica e culturalmente boa parte do mundo dito civilizado e cuja flatulência do presidente pode causar a queda da bolsa do outro lado do planeta, é natural até mesmo a prepotência comum àquele povo. Os franceses se ufanam de sua culinária, seus queijos e vinhos famosos e cobiçados. Os japoneses produzem e consomem tecnologia como nenhum outro povo. Os ingleses idolatram sua propagada educação e fleuma. Todo povo tem um motivo de orgulho, ao qual se apegam. Porque o nosso é tão feio? Porque é um esporte? Porque não veneramos o nosso 7 de setembro como os americanos se rasgam pelo 4 de julho ou os franceses pela queda da Bastilha?

Ah não! Eu prefiro me derreter pelo meu país por causa de um esporte do que por revoluções sangrentas. Não desdenho da história dos outros, mas nossos heróis não pegaram em armas, embora tenham sangrado eventualmente (como Pelé em 62). Não que eu queira comparar o peso histórico e político de George Washington com o talento esportivo de Romários e Ronaldos. Não se trata disso. O caso é saber valorizar aquilo que temos de melhor. Ainda não podemos nos orgulhar de nosso Congresso? Ok, vamos trabalhar pra mudar isso. Não temos a educação de um inglês? Não trabalhamos como chineses? Não produzimos tecnologia como japoneses? Nossos carros não são maravilhosos como os alemães? Sem problemas. Vamos trabalhar nisso também.

Mas sem deixar de se orgulhar e mostrar pra todo mundo que tem uma coisa que ninguém faz melhor que nós. Que quando aquelas camisas amarelas “5 estrelas” entram em campo, o mundo olha com respeito e admiração. Naquela hora é como se cada jogador lavasse a nossa alma. Somos nós que estamos sendo olhados com respeito pelo resto do planeta. Era assim também com Ayrton Senna. Ele, assim como nossos craques, e ao contrário de nossos políticos, faz com que durante um par de horas, cada brasileiro se sinta mais e melhor. E isso não pode ser reprovável.

Então, concordando ou não com a escalação, boa sorte aos nossos heróis. E cuidado com a Alemanha! Depois não digam que não avisei!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Bater ou Correr?

Depois de um longo período de férias, aqui estou eu de novo. E já chego falando dos meus assuntos preferidos: mulheres e confissões. E o assunto é delicado e envolve uma dúvida antiga dos homens. O que é vale mais, um covarde vivo ou um herói morto? Bom, eu sobrevivi. E vou contar.

Nos anos 90 tive um longo e memorável relacionamento com uma mulher especial. Hoje ela está casada e com filhos, então seu nome não vem ao caso, já que esse mico é só meu. Seus pais moravam em Caxias e freqüentemente os visitávamos nos finais de semana. Pois foi justamente num desses que eu vi a morte de perto pela primeira vez. E ela era enorme!

Saímos os cinco (eu, ela, pais e cunhado) para comer uma pizza há quatro quarteirões da casa dela. Noite agradável em Caxias, caminhamos até lá e nos empapuçamos de massa. Tudo perfeito até pagarmos a conta. Na saída, ao atravessarmos a rua, um Opala preto saiu de uma vaga arrancando e cantando pneus e – por assim dizer, muito longe – quase atropelou minha namorada. A moça, com sangue legítimo italiano nas veias, nem esperou uma reação minha e mandou na hora um “Babaca!” que foi ouvido pelo cozinheiro da pizzaria. Ato contínuo, o cidadão caxiense meteu o pé no freio. A luz de ré se acendeu e um frio percorreu minha espinha. Virei então para a ragazza e gentilmente agradeci:

- Obrigado, amor, você acabou de me arrumar uma porrada. – Assim, tranquilamente, sem elevar a voz.

Mal o carro se aproximou eu já tinha tomado a frente de todos, estava inflado, pelos eriçados, o próprio macho alfa. Comecei a disparar impropérios sobre a inabilidade e irresponsabilidade do condutor, recheado obviamente dos palavrões mais adequados a situação. Foi quando a porta do Opalão se abriu e ele saiu. Penso na melhor forma de descrevê-lo e só me vem à mente a descrição que o Chico Anysio fez de um negão num antigo show dele. Porque o cara abriu a porta e foi saindo do carro. Só pra ficar em pé foram uns 20 segundos. O cara era grande. Reparei que o Opala não tinha o banco do motorista. Ele dirigia sentado no banco de trás. O cara não era negro. Era a própria noite. Sem lua. Pensei ter visto um sorriso desfalcado, mas era uma tentativa de ranger os dentes. Os olhos vermelhos de quem usava groselha como colírio. Eu de branco que sou, passei a anêmico em poucos segundos.

Quero que você realize a situação. Eu, mauricinho da Barra, estava em Caxias – mais precisamente Jardim Primavera – à noite, cara a cara com um negão com pinta de zagueiro reserva do Americano, recém saído de um Opala preto e cuja mãe eu havia ofendido 10 segundos atrás. Era a hora de escolher um caminho. E foi fácil tomar a decisão.

Comecei a argumentar algo do tipo “Poxa, cara, você podia ter machucado a menina... Não custava prestar mais atenção...”, e fui dando um passo pra trás, depois outro, e então eu fiz a única coisa que passava pela minha cabeça. Eu corri. Mas eu corri muito, como nunca havia corrido na vida. Como se na savana africana estivesse e leoas famintas me perseguissem. Corri sem olhar pra trás, corri sem ver nada a minha volta. Apenas corri. Por quatro quarteirões eu corri, praticamente sem respirar, sem piscar.

Não pensei em namorada, sogros, cunhado, nada. Só pensava em me salvar. E me salvei. Cheguei ao portão dos meus sogros e novamente o macho alfa tomou o lugar do chassi de frango. Não estava arrependido de ter fugido, nem envergonhado por ter largado todos lá para serem trucidados. Mas estava com muita raiva e comecei a socar o portão com todas as minhas forças. Até ouvir um estalo e pensar “Puxa, quebrei o portão...”. Não, não era o portão. Era minha mão. Mal senti porque a adrenalina não permitia, mas as semanas seguintes se encarregaram de me lembrar do episódio. E o gesso me ajudou a contar uma boa história sobre como quebrei minha mão na cara daquele safado com um único soco que o nocauteou. Pelo menos até a verdade vir à tona. Ou seja, até hoje.

O que aconteceu com eles? Ah, quase ia me esquecendo. O negão caiu na gargalhada ao me ver desaparecer como um raio e todo o estresse sumiu. Todos riram e voltaram pra casa com uma boa história pra contar. Inclusive eu.