sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Dividindo pra Multiplicar



                Faz pouco mais de três anos que eu me vi pela primeira vez morando sozinho.  Depois de sair da casa de meus pais para um casamento e daí pra um segundo, finalmente eu estava sozinho pela primeira vez aos 36 anos.  De longe foram os anos mais difíceis da minha vida. E, é claro, os anos onde mais aprendi. Nesse período conheci alguns dos piores sentimentos e sensações que uma pessoa pode ter. Solidão, dor, arrependimento, culpa, fome, auto-piedade tudo isso regado com muitas lágrimas.
               Não, claro que não foi um tempo escuro só de chuvas. Tive momentos excelentes ao lado de pessoas muito especiais. Sem meu filho e a mãe dele, tudo teria sido infinitamente mais doloroso. Mas passou. Demorei a ver uma luz no fim, mas eu a encontrei. Talvez a tempo de consertar muitas coisas. Só o tempo dirá.

                Eu acho que cada um de nós conseguiria fazer uma lista das pessoas que foram importantes em nossas vidas. De pessoas que nos tocaram de alguma forma, que dividiram seu tempo e seu pensamento conosco. Pessoas que, acima de tudo, suportaram nossos defeitos e nossas fraquezas e que, por amor, optaram por enxergar através disso tudo, procurando ver o melhor em nós. E foi justamente por terem se recusado a aceitar essas partes "ruins" de nós como sendo o principal, nos ajudaram a crescer e evoluir como seres humanos.

                Ao longo da minha vida cometi muitos erros. Alguns que me deixam profundamente envergonhado. Desde pequenos comportamentos impróprios, escolhas erradas e até más ações. Sei que andei por caminhos que muitas pessoas consideraram ruins e imperdoáveis. E isso me causa remorso por ter causado sofrimento para algumas dessas pessoas que me amavam. Por outro lado, não saberia expressar o quanto sou grato por tudo o que aprendi nesse caminho e pelo tanto de coisas que ainda tenho que aprender. Sinto que devo pedir desculpas a alguns pela demora nesse aprendizado.

                O Deus em que acredito não pune. Sei que ele nos estimula a perdoar nossas falhas, a não carregar medo e culpa (coisas que pesam e atrapalham nossa caminhada) e, mais que tudo, Ele espera que sempre lutemos e tentemos ser felizes.

                Nesse grupo de pessoas a que me referi, há claramente uma em especial que foi responsável pela maioria das “melhorias” por que passei. Suas contribuições e as mudanças em mim operadas foram profundas em vários aspectos. Sou grato a todas as pessoas que passaram pela minha vida, mas uma delas me comove de forma especial. Vou preservar o nome dela, mas quem me conhece não tem dúvidas sobre quem é essa pessoa. Uma mulher que reúne algumas das melhores características de um ser humano. Dotada de sabedoria, compaixão e amor, manifestados de tal forma que, a custa de muita paciência, me mostrou que meu melhor lado, meus melhores atos e pensamentos não precisavam ficar apenas numa vitrine. Que eles poderiam e deveriam ser usados. Sempre. E mais. Ela também me mostrou, com paciência ainda maior, que nenhum dos meus defeitos era grande ou enraizado o bastante para que não pudessem ser corrigidos. 

                Nesses três anos eu me fazia muitas perguntas. Porque eu perdi tantas coisas? Porque nada dava certo? Porque eu não era feliz em nenhum relacionamento? Porque tantos problemas financeiros e profissionais? Será que eu merecia tudo isso?

                Acho que de todas as lições aprendidas eu destacaria duas como as mais importantes. E queria dividir isso com quem estiver lendo. A primeira é que Deus fala com a gente o tempo todo. Os sinais estão a nossa volta, vinte e quatro horas por dia. Mas não nascemos sabendo decifrar essa linguagem. Ele fala até mesmo através de nossos pensamentos.  O grande segredo é aprender a separar quais pensamentos vêm Dele e quais vêm de outras fontes menos iluminados. Porque essas fontes “escuras” também estão sempre rondando.

                De certo modo há uma regra simples para perceber. Imagine que os que venham Dele sejam os mais elevados, os mais claros e nobres. Li isso recentemente e é tão simples que chega a me aborrecer por não ter entendido antes. O pensamento mais elevado é o que te deixa alegre. O pensamento mais claro é o que é traduz a verdade. E o mais nobre é o que te leva ao amor. Alegria, verdade e amor. Simples. E eficaz.

                O tempo todo Ele fala através disso. E seus mensageiros ainda complementam com sinais. Uma música que toca no rádio, um gesto inesperado de um desconhecido, tudo. E isso me leva a segunda lição aprendida e que foi para mim a maior mudança de atitude.

                Depois de anos orando em tom de pedido, sempre querendo e às vezes até suplicando por algo, eu aprendi que a boa oração é a de agradecimento e gratidão. Por Sua infinita paciência em nos tentar ensinar. Através de nossos pensamentos, através de seus mensageiros e através das pessoas que cruzam nosso caminho. 

                E essa é a razão desse texto existir. Agradecer por cada pedra que me fez tropeçar, agradecer por cada pessoa que impediu que eu caísse (e aquelas que me ajudaram a levantar quando caí), mas principalmente agradecer pelo aprendizado. Sei que ainda estou na metade do caminho dessa vida. Imagina só como vai ser essa segunda parte! E a vontade de escrevê-lo nasceu de uma aula que dei recentemente num local muito especial. Na verdade não foi uma aula. Foi uma catarse. Que será repetida em breve, de tão bem que isso me fez.
                Na sua próxima oração, experimente agradecer. Uma vez li que no céu há dois departamentos para recebimento de orações. Um dos departamentos parece uma central de correios de cidade grande. Centenas de anjos trabalham correndo como loucos para tentar analisar cada uma delas, despachando para o devido setor. Uma loucura. Esse é o departamento dos pedidos. Ao lado há o outro departamento: o das orações de agradecimento. Na verdade é apenas uma sala. No centro dela há uma mesa onde se senta um único anjo. De vez em quando uma oração aparece na caixa de entrada. Dizem que o trabalho dele é simples. Ele não precisa encaminhar para lugar nenhum. Não há caixa de saída. Ele apenas recebe, lê e expressa um imenso e generoso sorriso, que ilumina a sala inteira.

                Pensa nisso. Com carinho.