quinta-feira, 5 de maio de 2011

Inveja? Não, Admiração.

Vou começar com uma frase bem gay. Meu sonho era ser mãe. Não exatamente carregar uma barriga ou parir. Mas ser mãe no sentido subjetivo da coisa. Poder sentir o que apenas pude imaginar vendo uma mãe muito especial atuando.

Que ser mãe é ter a certeza que sua vida inteira mudou num passe de mágica apenas por abrir o resultado do exame de gravidez. É ver seu corpo sofrer alterações drásticas, que ela julga até horrorosa, mas não estar nem aí pra isso. É enjoar terrivelmente, passar dias sem poder comer nada, e mesmo assim ter a certeza de que isso passa e logo o docinho vem. Gastar horas e horas comprando roupinhas, arrumando um quarto como se ele já estivesse ali.

Curtir a ansiedade mais gostosa do mundo no dia de ir para a maternidade e enfrentar o medo da dor com um sorriso no rosto, porque aquela lágrima vem do coração e não de um útero se contorcendo. É sentir sua alma num silêncio de reverência ao pegar o docinho pela primeira vez no colo, ao mesmo tempo em que houve uma sinfonia de anjos anunciando a nova vida gerada.

Voltar pra casa ainda tonta e se recuperando da cirurgia, e mesmo assim ter forças para passar horas e horas vigilante e atenta a qualquer necessidade dele. Sentir a sublime comunhão da amamentação, que nutre o corpo dele, mas ilumina a alma de ambos. É ficar ao lado de um berço olhando ele dormir sem perceber o tempo passar.

Mas nem tudo são flores e ser mãe também é sentir o coração apertado ao sair de casa com a obrigação do trabalho, mesmo sabendo que ele está com o pai. É tirar seu leite e guardar numa fria geladeira, como quem deixa um pedaço de si mesma para acalentar seu filhote na sua ausência. Ter que ficar horas no trabalho com a cabeça a mil, mas tendo deixado seu coração dentro de um berço, disfarçado em travesseiro.

É sentir uma faca rasgando seu peito ao deixar o docinho no colo de uma estranha no primeiro dia de creche, sabendo que só voltará oito horas depois. É ter a consciência de que não estará presente em cada segundo desta fase tão especial e por isso perderá momentos únicos.  E pior do que tudo: sem que ele possa se expressar, não saber como ele está se sentindo com tudo isso.

Em seguida é se ver sozinha com o docinho e ter que reformular todo um planejamento para garantir que ele seja o menos afetado pelas mudanças. Lutar como uma leoa para defendê-lo, para supri-lo, ainda que isso envolva sacrifícios pessoais nunca antes imaginados.

É ter um medo constante de não estar sendo boa o bastante, presente o bastante, amorosa o bastante, mesmo vendo que o docinho é feliz como poucos. Sentir as pernas bambas nos primeiros passos dele. Sofrer a dor do primeiro arranhão no joelho. Se orgulhar em cada pequena conquista. Mas acima de tudo e sobre todas as coisas é aprender a conviver com a certeza que de ela não poderá protegê-lo e salvá-lo de tudo nessa vida, por mais que isso cause angústia.

Mas ele cresce rápido, o tempo voa e ser mãe passa a ser a mais sublime das vivências.  É achar tempo na sua vida que já era corrida para que nuca falte o momento dele. Cuidar do uniforme, mãe não gosto desse tênis, preparar almoço, não quero a cenoura, respira, leva na natação, a água tá fria, anda menino, tem dever de casa, perdi minha borracha na escola, hora do jantar, corre pro banho que tá na hora de dormir, pode ligar o ar condicionado, mas ele ainda quer uma coisinha pra comer... Ufa!

E nada disso é capaz de expressar tudo o que uma mãe sente. Padecer no paraíso, disseram alguns. Pelo que pude observar nesta mãe, é descer no paraíso e lá ficar durante anos. Se em outra vida me for confiada esta missão, espero poder me lembrar de como essa mãe é. Que ela me inspire nas atitudes, como inspirou este texto. E que me conceda a honra de estar ao seu lado hoje, amanhã e sempre.

Porque esta é a mais bela e difícil tarefa que pode ser confiada a uma mulher: amar incondicionalmente um pedaço de si mesma que por benção divina passou a viver fora de seu corpo.