Nesses tempos de mensalões e
explosões de violência seja em São Paulo ou na Palestina, é raro nos deparamos
com boas notícias. E quando digo boas, me refiro especificamente àquelas
notícias que renovam as nossas esperanças de vivermos um dia num mundo melhor.
Pois ultimamente tenho vivido
momentos que alimentam essa minha esperança em doses generosas. Por razões
profissionais, semanalmente passo algumas horas na companhia de pessoas que
escolheram o caminho menos óbvio em suas profissões. Optaram pelo difícil, pelo
complicado. Por algum motivo não explicado, este pequeno grupo de dezoito pessoas
decidiu que o básico, o usual, o corriqueiro não lhes bastava.
Estou me referindo à equipe de
profissionais do PNE
Sports, projeto administrado pelo Instituto IDEAS, em parceria com a
Universidade Castelo Branco e o patrocínio da Petrobras. Em sua terceira
edição, o projeto atende atualmente 82 pessoas especiais utilizando o esporte
como ferramenta de desenvolvimento, superação e integração de crianças,
adolescentes e adultos com patologias como síndrome de down, autismo e até
paralisia cerebral.
São professores de educação
física, pedagogos, psicóloga e assistentes sociais que resolveram mudar o pequeno espaço
em volta deles. E com isso realizam grandes transformações na vida de outras
pessoas. Sou testemunha do quanto este pequeno grupo é capaz de mudar a
realidade justamente daqueles que são os mais esquecidos. E posso afirmar com
toda certeza: tentar incluir aqueles que são diária e sistematicamente
excluídos desde que o mundo é mundo é tarefa hercúlea.
Só o fato de existir pessoas
assim já faz com que a esperança seja renovada. A cada visita que faço ao
projeto, sou alimentado com essa sensação. Não raro tenho que segurar as
lágrimas, disfarçar e voltar a me concentrar no meu trabalho administrativo.
Mas invariavelmente saio de lá com duas certezas: a coisa não está perdida e eu
sou muito, mas muito abençoado pelo que tenho. Voltando de lá fica impossível
me aborrecer com o trânsito, com a van que me fechou, com a grana que tá curta
ou com a tosse que já me acompanha há uma semana. Tudo fica menor depois do que
estes 18 profissionais gentilmente “esfregam” na minha cara.
Este texto é dedicado a vocês: Carla
Beatriz, Catula, Elaine, Evaldo, Fernando, Lauro, Luciana, Luene Regina, Márcio,
Mary Lucy, Michele, Odinei, Priscila, Ricardo, Roberto Charles, Rosana e
Sheila. Obrigado a cada um de vocês por terem escolhido o caminho mais incomum.
Quando a maioria seguiu pela estrada já asfaltada, vocês preferiram seguir pelo
mato. E munidos de um pequeno canivete. Talvez sejam loucos, mas são sempre os
doidos que mudam as coisas.
Vocês me lembram da antropóloga americana
Margaret Mead, com quem vocês têm muito em comum. Afinal ela também era
professora e, assim como vocês, concentrou seus estudos nos problemas das
crianças e suas personalidades. Disse ela:
“Nunca duvide de que um pequeno grupo de pessoas profundamente
comprometidas pode mudar o mundo; na verdade é a única coisa que pode mudá-lo”.
Não se esqueçam disso, nunca.
Porque especiais são vocês.
Porque especiais são vocês.