Depois de um longo período de férias, aqui estou eu de novo. E já chego falando dos meus assuntos preferidos: mulheres e confissões. E o assunto é delicado e envolve uma dúvida antiga dos homens. O que é vale mais, um covarde vivo ou um herói morto? Bom, eu sobrevivi. E vou contar.
Nos anos 90 tive um longo e memorável relacionamento com uma mulher especial. Hoje ela está casada e com filhos, então seu nome não vem ao caso, já que esse mico é só meu. Seus pais moravam em Caxias e freqüentemente os visitávamos nos finais de semana. Pois foi justamente num desses que eu vi a morte de perto pela primeira vez. E ela era enorme!
Saímos os cinco (eu, ela, pais e cunhado) para comer uma pizza há quatro quarteirões da casa dela. Noite agradável em Caxias, caminhamos até lá e nos empapuçamos de massa. Tudo perfeito até pagarmos a conta. Na saída, ao atravessarmos a rua, um Opala preto saiu de uma vaga arrancando e cantando pneus e – por assim dizer, muito longe – quase atropelou minha namorada. A moça, com sangue legítimo italiano nas veias, nem esperou uma reação minha e mandou na hora um “Babaca!” que foi ouvido pelo cozinheiro da pizzaria. Ato contínuo, o cidadão caxiense meteu o pé no freio. A luz de ré se acendeu e um frio percorreu minha espinha. Virei então para a ragazza e gentilmente agradeci:
- Obrigado, amor, você acabou de me arrumar uma porrada. – Assim, tranquilamente, sem elevar a voz.
Mal o carro se aproximou eu já tinha tomado a frente de todos, estava inflado, pelos eriçados, o próprio macho alfa. Comecei a disparar impropérios sobre a inabilidade e irresponsabilidade do condutor, recheado obviamente dos palavrões mais adequados a situação. Foi quando a porta do Opalão se abriu e ele saiu. Penso na melhor forma de descrevê-lo e só me vem à mente a descrição que o Chico Anysio fez de um negão num antigo show dele. Porque o cara abriu a porta e foi saindo do carro. Só pra ficar em pé foram uns 20 segundos. O cara era grande. Reparei que o Opala não tinha o banco do motorista. Ele dirigia sentado no banco de trás. O cara não era negro. Era a própria noite. Sem lua. Pensei ter visto um sorriso desfalcado, mas era uma tentativa de ranger os dentes. Os olhos vermelhos de quem usava groselha como colírio. Eu de branco que sou, passei a anêmico em poucos segundos.
Quero que você realize a situação. Eu, mauricinho da Barra, estava em Caxias – mais precisamente Jardim Primavera – à noite, cara a cara com um negão com pinta de zagueiro reserva do Americano, recém saído de um Opala preto e cuja mãe eu havia ofendido 10 segundos atrás. Era a hora de escolher um caminho. E foi fácil tomar a decisão.
Comecei a argumentar algo do tipo “Poxa, cara, você podia ter machucado a menina... Não custava prestar mais atenção...”, e fui dando um passo pra trás, depois outro, e então eu fiz a única coisa que passava pela minha cabeça. Eu corri. Mas eu corri muito, como nunca havia corrido na vida. Como se na savana africana estivesse e leoas famintas me perseguissem. Corri sem olhar pra trás, corri sem ver nada a minha volta. Apenas corri. Por quatro quarteirões eu corri, praticamente sem respirar, sem piscar.
Não pensei em namorada, sogros, cunhado, nada. Só pensava em me salvar. E me salvei. Cheguei ao portão dos meus sogros e novamente o macho alfa tomou o lugar do chassi de frango. Não estava arrependido de ter fugido, nem envergonhado por ter largado todos lá para serem trucidados. Mas estava com muita raiva e comecei a socar o portão com todas as minhas forças. Até ouvir um estalo e pensar “Puxa, quebrei o portão...”. Não, não era o portão. Era minha mão. Mal senti porque a adrenalina não permitia, mas as semanas seguintes se encarregaram de me lembrar do episódio. E o gesso me ajudou a contar uma boa história sobre como quebrei minha mão na cara daquele safado com um único soco que o nocauteou. Pelo menos até a verdade vir à tona. Ou seja, até hoje.
O que aconteceu com eles? Ah, quase ia me esquecendo. O negão caiu na gargalhada ao me ver desaparecer como um raio e todo o estresse sumiu. Todos riram e voltaram pra casa com uma boa história pra contar. Inclusive eu.
6 comentários:
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKK!!!! Tô rindo de verdade!!! Não posso acreditar que vc fez isso, Fernando! KKKKKKKKKKKKK!!!!
Eu estava com muita, muita, muita saudade de seus textos. Sou sua leitora número 1 (depois da sua mãe!) e temos uma ótima relação de incentivo mútuo quando o assunto é escrever um bom texto, de preferência que divirta e que nos leve a alguma reflexão.
Esse me fez rir muito. E me levou à reflexão de que todo macho alfa tem seu dia de Bambi. Sei que "I will survive" é uma de suas músicas favoritas e agora entendo o porquê. Você tinha que sobreviver, né? KKK!
Beijos cheios de felicidade com o seu retorno!
Ai de vc naum podia esperar coisa diferente...tou quase me matando de tanto rir aqui...por isso que eu falo: sem vc e suas historias meus dias naum teriam graças...TE AMO FER!!!
kkkkkkkkkkkkkkkkk kd vez que ouço"leio" essa historia me racho de rir aki e dessa vez ñ foi diferente..é mto hilario essa historia...rsrsrsrsr te amo fernando..bjkas da sua sempre maroca
Aonde?!?!?!...F se picou....kkkkk...Adorei...uma comedia...e das boas...Maravilha!
Rindo muito.....adorei!
Me lembrei dessa estória outro dia... o tempo voa! Você continua escrevendo muito bem. Como todo bom escritor, deu uma maximizada (bem pequena, diga-se de pasaagem... rsss), mas foi isso mesmo. Lá se vão 13 anos! Jardim Primavera nunca mais foi a mesma depois que o chassi de frango ameaçou o noite preta!
Postar um comentário