quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Crítica Hipócrita

Ando meio de saco cheio dessa mania generalizada de ser politicamente correto. O que começou com uma tentativa de reduzir preconceitos e promover a tolerância entre as diferenças está se tornando algo insuportável. Principalmente no caso do humor.

Existe uma patrulha estúpida na mídia, que decidiu cobrar que o humor seja politicamente correto. Ninguém vê o quanto isso é conflitante? O humor é historicamente feito em cima das incorreções e imperfeições sociais. Ele nasce da observação das diferenças. Do que é ridículo, risível. Isso não quer dizer que o humor tenha licença poética (e penal) para ridicularizar ou diminuir quem quer que seja.

Mas é através do humor que muitos problemas são apontados. O humor é a forma mais leve e agradável de chamar a atenção para problemas sociais. Mais pessoas vão a shows de stand-up comedy do que em palestras de sociologia.

Não faz muito tempo e Os Trapalhões eram o maior sucesso do humor na TV. E qual era a base das melhores piadas? Todos os estereótipos que envolvessem um nordestino desterrado (Didi), um “galã” de sexualidade duvidosa (Dedé), um caipira ingênuo (Zacarias) e um crioulo cachaceiro (Mussum). Sim, um crioulo. Um negão. Grande pássaro, como dizia o Didi. Fumaça, fumê.

Minha geração cresceu com isso no imaginário. E não me tornei racista. Assim como cresci vendo Rambos no cinema e não me tornei um psicopata assassino. Mussum era um crioulo. Se definia como crioulo. Ele não era afro-descendente. E, segundo uma recente pesquisa, o mais querido e mais engraçado do quarteto.

Numa entrevista antológica para a TV, Mussum disse que quando reunia sua família na piscina de sua casa, ficava parecendo uma sopa de beringela! Preconceito? Ofensa racial? Não! Apenas uma piada. E muito boa.

E agora pegam no pé de muitos por causa da incorreção? Danilo Gentili é grosseiro? Ele está no papel dele. Humorista tem que botar o dedo na ferida. Chacoalhar o que está estabelecido. Robin Williams disse que o Rio tem pó e prostitutas e foi execrado até pelo Jornal Nacional! Pelo amor de Deus! Ninguém vê que a piada é genial e, acima de tudo, pertinente? Os Simpsons sacaneiam Deus e o mundo (incluindo e principalmente a sociedade americana) e fazem sucesso há mais de uma década.

Eu não quero viver num mundo politicamente correto. Quero viver num mundo justo. Tenho amigos negros e quero ter o direito de abraçá-los e dizer “E aí, negão!”. Assim como eu sou chamado de branco azedo, careca ou orelhudo. Porra, eu sou as três coisas. Eu não sou caucasiano ou euro-descendente! Não estou preenchendo cadastro em órgão público. Estou na minha vida pessoal, e nela eu sou branquelo.

No mesmo dia em que a declaração do Robin Williams foi divulgada, nosso boçal presidente declarou que o vídeo da corrupção deslavada do governador Arruda não era conclusivo. Um vídeo!!! E mesmo assim a piada tomou mais espaço na mídia.

País estranho. A corrupção causa menos indignação do que uma piada. Definitivamente querem que eu desista desse país.

Parem com a palhaçada. Deixem a palhaçada só para os palhaços. Botem um fim na hipocrisia. Humor é coisa séria e necessária. Mas acima de tudo é apenas uma piada.