quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Crítica Hipócrita

Ando meio de saco cheio dessa mania generalizada de ser politicamente correto. O que começou com uma tentativa de reduzir preconceitos e promover a tolerância entre as diferenças está se tornando algo insuportável. Principalmente no caso do humor.

Existe uma patrulha estúpida na mídia, que decidiu cobrar que o humor seja politicamente correto. Ninguém vê o quanto isso é conflitante? O humor é historicamente feito em cima das incorreções e imperfeições sociais. Ele nasce da observação das diferenças. Do que é ridículo, risível. Isso não quer dizer que o humor tenha licença poética (e penal) para ridicularizar ou diminuir quem quer que seja.

Mas é através do humor que muitos problemas são apontados. O humor é a forma mais leve e agradável de chamar a atenção para problemas sociais. Mais pessoas vão a shows de stand-up comedy do que em palestras de sociologia.

Não faz muito tempo e Os Trapalhões eram o maior sucesso do humor na TV. E qual era a base das melhores piadas? Todos os estereótipos que envolvessem um nordestino desterrado (Didi), um “galã” de sexualidade duvidosa (Dedé), um caipira ingênuo (Zacarias) e um crioulo cachaceiro (Mussum). Sim, um crioulo. Um negão. Grande pássaro, como dizia o Didi. Fumaça, fumê.

Minha geração cresceu com isso no imaginário. E não me tornei racista. Assim como cresci vendo Rambos no cinema e não me tornei um psicopata assassino. Mussum era um crioulo. Se definia como crioulo. Ele não era afro-descendente. E, segundo uma recente pesquisa, o mais querido e mais engraçado do quarteto.

Numa entrevista antológica para a TV, Mussum disse que quando reunia sua família na piscina de sua casa, ficava parecendo uma sopa de beringela! Preconceito? Ofensa racial? Não! Apenas uma piada. E muito boa.

E agora pegam no pé de muitos por causa da incorreção? Danilo Gentili é grosseiro? Ele está no papel dele. Humorista tem que botar o dedo na ferida. Chacoalhar o que está estabelecido. Robin Williams disse que o Rio tem pó e prostitutas e foi execrado até pelo Jornal Nacional! Pelo amor de Deus! Ninguém vê que a piada é genial e, acima de tudo, pertinente? Os Simpsons sacaneiam Deus e o mundo (incluindo e principalmente a sociedade americana) e fazem sucesso há mais de uma década.

Eu não quero viver num mundo politicamente correto. Quero viver num mundo justo. Tenho amigos negros e quero ter o direito de abraçá-los e dizer “E aí, negão!”. Assim como eu sou chamado de branco azedo, careca ou orelhudo. Porra, eu sou as três coisas. Eu não sou caucasiano ou euro-descendente! Não estou preenchendo cadastro em órgão público. Estou na minha vida pessoal, e nela eu sou branquelo.

No mesmo dia em que a declaração do Robin Williams foi divulgada, nosso boçal presidente declarou que o vídeo da corrupção deslavada do governador Arruda não era conclusivo. Um vídeo!!! E mesmo assim a piada tomou mais espaço na mídia.

País estranho. A corrupção causa menos indignação do que uma piada. Definitivamente querem que eu desista desse país.

Parem com a palhaçada. Deixem a palhaçada só para os palhaços. Botem um fim na hipocrisia. Humor é coisa séria e necessária. Mas acima de tudo é apenas uma piada.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Engasgado Estou Eu

É engraçado como eu nunca comentei aqui sobre um assunto que volta e meia debato com os que me cercam. Um assunto que me incomoda e irrita absurdamente. Vamos a ele.

Hoje pela manhã dei de cara com a notícia de que mais uma pessoa, desta vez um bebê, morreu engasgado numa creche. Para uma pessoa com conhecimentos básicos – eu disse básicos - em primeiros socorros, uma pessoa morrer engasgado é algo tão estúpido quanto morrer de topada no dedo mindinho.

E aí vem o gancho que eu queria para descer o sarrafo em muitas coisas erradas. Sabe por que pessoas morrem engasgadas com tanta freqüência no Brasil? Porque aqui, ao contrário de muitos outros países, primeiros socorros não se ensinam na escola. Na América do Norte e na Europa há milhares de casos de crianças que salvaram até adultos, realizando manobras de reanimação cardiopulmonar até a chegada dos paramédicos. Aqui uma criança morre engasgada porque um adulto não conhece meia dúzia de manobras para desobstruir uma via aérea.

E sabe o pior? Na década de 90 eu estudei medicina e, pelo menos até aquele momento, isso também não se ensinava na faculdade. Porque dentro de um hospital você tem equipamentos para realizar os procedimentos. As “manobras” não eram ensinadas. Isso quer dizer que um médico formado provavelmente assistiria a morte de alguém engasgado ao seu lado, sem saber o que fazer.

Essa deformidade vem de longa data. No Brasil o conhecimento médico foi elevado há uma categoria acima das outras carreiras. Médicos são quase uma casta. Eles são guardiões da sabedoria e do poder para salvar vidas. Tentar repartir este conhecimento e esta função é motivo de revolta.

Ao contrário de todo o mundo civilizado, paramédicos não são reconhecidos como profissão por aqui. Para resguardar o conhecimento dos “leigos” foi criada uma nova especialidade que permite ao médico realizar procedimentos pré-hospitalares. O problema é que não se aprende pré-hospitalar na faculdade.

Eu sei o que falo porque estive nas duas pontas desse cabo de guerra. Entrei numa faculdade de medicina e vi o que era ensinado. E depois estive como paramédico dentro de uma ambulância aqui no Rio de Janeiro. E vi o quiprocó que a empresa de resgate causou. Socorristas foram presos por “exercício ilegal da medicina”. Eu mesmo fui fotografado e arquivado no CRM realizando uma entubação de uma vítima de atropelamento – me safei porque ainda estudava medicina. Alguns médicos bombeiros nos hostilizavam. Não éramos do mesmo time. Éramos os invasores. Roubamos o conhecimento e, pior do que tudo, roubamos o mercado de trabalho

Enfim, quem perde com tudo isso é aquele que parece estar acostumado a perder. A população. Confesso que na minha idade fica difícil ter esperança de que coisas como esta sejam alteradas. Enraizaram de tal forma que fica muito difícil. Eu faço o que posso ao meu redor. Perto de mim eu posso jurar e garantir que nenhuma pessoa morrerá engasgada sob nenhuma hipótese. Idem em relação à mãe de meu filho e, muito em breve, em relação ao meu próprio filho.

Quem sabe ensinando a ele, eu plante uma semente para algo novo no futuro.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Um Raio de Sol

Neste blog eu já fiz homenagens genéricas às mulheres falando sobre vários assuntos. Em algumas delas eu citei nomes e em outras apenas dei pistas de quem era a homenageada. Mas nunca dediquei nenhum post específico a nenhuma em especial. Até hoje.

Porque há pouco mais de um ano um Sol tem brilhado na minha vida. Um Sol que me aquece quando eu tenho frio. Um Sol que me ilumina quando a escuridão me cerca. Você pode estar pensando que estou falando de um novo amor, e de certo modo não está errado. Mas não é esse tipo de amor que você imagina. Não é amor de homem e mulher embora, por acaso, o meu Sol seja feminino.

Sol me conheceu no auge da minha felicidade e me acompanhou ladeira abaixo até nos dias mais tristes. Sob a luz de Sol eu ri, chorei, me rasguei e tirei todas as máscaras existentes. Sol me viu de todas as formas possíveis, de corpo e alma abertos. E eu igualmente pude ver Sol deste jeito. E sabe o que descobrimos? Que eu e Sol somos quase clones. Eu e Sol sentimos, percebemos e reagimos ao que nos cerca de formas assustadoramente idênticas.

Mas tem um benefício que minha relação com Sol me trouxe que é algo incomparável. Sol me fez perceber que eu não estou só no mundo. Que há pelo menos mais uma pessoa no mundo que acredita no que eu acredito. Que deseja o que eu desejo. Que sofre pelo que eu sofro. Com Sol ao meu lado eu não me sinto um ET. Não me sinto o diferente, o único de uma espécie em extinção. E o melhor de tudo: me vendo em Sol, fez com que eu entendesse a mim mesmo de um ponto de vista que eu não conhecia.

Através de Sol eu pude me ver como num espelho, tamanha a semelhança de almas. E isso fez com que eu enxergasse minhas próprias falhas e pudesse trabalhar em corrigir cada uma delas.

Sol me deu carinho quando a carência apertou. Brigou comigo quando eu estive errado. Chamou minha atenção quando estava distraído com coisas tolas. Mas acima de tudo, Sol esteve ao meu lado. Em cada minuto de tudo, em cada sentimento bom ou ruim, Sol estava lá. Pronta.

Retribuir o que Sol me dá... Missão impossível! Pudesse roubar a felicidade de todos os corações, tomar a paz de todos os monges, ainda assim seria pouco para presentear Sol. Mas na verdade acho que nos basta saber que o outro está ali do nosso lado. Mesmo distantes, mesmo quando não podemos nos ver, nossos pensamentos continuam afinados e uníssonos. Vibramos na mesma freqüência e isso nos fortalece. Carrego um pouco de Sol dentro de mim, e sei que uma parte de mim anda com ela.

Por cada gesto, por cada palavra e principalmente por me mostrar que ser apaixonado, intenso e derramado não é um defeito. Que há mais gente assim no mundo. Nem que sejamos apenas nós dois. Eu e você, minha ensolarada Solange.

Eu amo você.

domingo, 27 de setembro de 2009

Culhões de Aço

Por três vezes neste blog eu ataquei duramente a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Critiquei sua ineficiência, sua corrupção, seu péssimo treinamento e seu abjeto material humano. Nas três situações eu fui ácido, impiedoso e até mesmo agressivo. Mas hoje estou aqui para justificar o nome deste blog. Eu dei três mordidas, mas agora estou aqui para assoprar. Mais até. Estou aqui para beijar.

Porque eu pego no pé, mas também sei reconhecer quando um bom serviço é prestado. E este texto é para que o nome de dois policiais não seja esquecido. O atirador de elite Major Busnello e o Tenente-Coronel Fernando Príncipe, comandante de toda a operação durante o seqüestro da comerciante Ana Cristina Garrido. Merecem mais que medalhas. Este por ter autorizado o tiro e aquele por ter esperado o momento certo e de menor risco para a refém.

E assim, Ana Cristina foi libertada. Veja que eu não digo que o seqüestrador foi executado. A morte dele foi a conseqüência da libertação. Foi o efeito colateral controlado. Ponto para a PM. Não que eu defenda a execução sumária de todo e qualquer bandido sob a mira de um policial. Criminoso preso, subjugado deve ser encaminhado a delegacia e daí para a justiça. Mas há casos em que a “execução” ainda que na frente das lentes da imprensa, é necessária e bem-vinda.

Palmas para o Tenente-Coronel que, mesmo sabendo que tudo estava sendo registrado em vídeo, deu o sinal verde. E palmas para o major que resolveu tudo com um único tiro. Ambos tiveram aquilo que os latinos costumam chamar de “cojones”. Aliás, alguém que faz prova para ser policial, que vai andar armado nessa cidade louca e eventualmente vai trocar tiros com bandidos, o mínimo que se espera desse cidadão é que ele tenha culhões.

Há quase 10 anos, no começo de 2009, a professora Geysa esteve seqüestrada dentro do ônibus 174, igualmente sob a mira de um bandido armado, que deu inúmeras chances de ser executado com um tiro limpo. Fernando Príncipe, o herói de hoje, estava presente naquele episódio. Mas, segundo informações da imprensa, naquela época ninguém quis assumir a responsabilidade de ordenar a execução em cadeia nacional, já que todas as emissoras transmitiam tudo ao vivo na TV. Foi dito que o governador não autorizou a ação policial. O resultado todos sabem. Faltou culhão.

As polícias de vários países tem esse tipo de policial. O especialista em tiros limpos. Atiradores de elite. Snipers. Os caras frios que sabem esperar a hora certa de resolver tudo. A internet está cheia de vídeos de ações assim. Seja acertando a arma do bandido ou sua testa, o importante é tirar o refém da situação de risco. É para o refém que a polícia trabalha e treina. E não pode ser diferente.

Pois então, que uma nova era tenha sido inaugurada! Que de hoje em diante a vida do inocente esteja sempre acima da vida do criminoso e, se a execução for uma saída segura, que seja feita. Que estes policiais recebam medalhas especiais, que possam ser colocadas em suas virilhas. Porque se um dia eu for sorteado nessa insana e violenta loteria carioca, espero ter policias com culhões assim em minha defesa.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Quem Gosta de Osso é Cachorro!


-->
Já desfiei elogios às mulheres de uma forma geral aqui neste espaço. Sou um fã ardoroso do sexo feminino. Mas tem uma particularidade nessa minha admiração que apenas os mais íntimos conhecem. Não é algo que eu esconda, até porque seria impossível, mas é um tema que sempre gera comentários e até certa polêmica. Eu não me importo se uma mulher for gorda. Mais até: consigo ter tesão nelas. Não que eu não saiba admirar a beleza de uma mulher esbelta, malhada ou mesmo magrela. Mas uma fofinha, também tem seu valor. E digo mais: eu não estou sozinho nesta opinião.
Muitas mulheres acima do peso sofrem por não se encaixarem no padrão de beleza vigente. Eu conheço mulheres fofinhas que são tristes e solitárias e sempre lhes digo que na verdade elas não acharam o cara certo. Porque existem muitos admiradores deste tipo de mulher. Há sites na internet especializados nisso.
Também conheço muitas fofinhas bem resolvidas, que sabem tirar proveito de cada centímetro a mais em suas medidas. Que usam toda a sua fartura para receber e proporcionar prazer, desde que estejam na companhia certa. E foi uma dessas que há cerca de 18 anos fez com que eu mudasse minha opinião. Não, eu não nasci gostando das gordinhas. A TV me ensinou desde cedo que a gostosa era a magrela do comercial de cerveja ou de cigarros. Era pra ela e por ela que eu deveria me tornar um homem bem sucedido, fumante e alcoólatra.
Tenho problemas com as magrelas e especialmente aquelas que nunca têm fome. Você conhece esse tipo. Saí com algumas e são péssimas companhias. Rodízio de pizza nem pensar. Você pergunta o que ela quer comer e ela diz que basta uma saladinha. Você pede cerveja, ela água. De repente o barulho – Rooooooooooonc!!! – invade o ambiente. Ela diz que não sabe porque o estômago faz esse barulho. Porque você está com fome, sua doida!!!! Odeio esse tipinho!
Então apareceu a primeira fofinha da minha vida. Foi ela que me mostrou tudo que uma mulher farta tem a oferecer. E posso te garantir que, se sexo é algo que envolve contato, atrito e líquidos corporais, você há de concordar que uma fofinha tem muito mais a oferecer. E desde então isso se tornou meio que um padrão. Não que todas tenham sido gordinhas a partir daquela. Houve magrelas e até malhadas no percurso. A mãe do meu filho era professora de educação física e viciada em malhação. Mas analisando de uma forma ampla, as fofinhas tem um grande valor.
Se você é fofinha e quer emagrecer por você, porque não se sente bem, tem todo o meu apoio. Mas se você está fazendo isso em busca de um padrão universal absurdo, eu lhe digo: pare já! Não troque seu corpo, troque seu pensamento e, se for o caso, seu homem. Ache um que saiba dar valor a cada pedacinho de tudo o que você tem. Porque quem gosta de osso é cachorro!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Press Start

Já escrevi neste blog sobre minha íntima relação com videogames. E fico muito feliz que a relação do mundo com este equipamento venha mudando tão vertiginosamente. Porque, assim como a TV, a internet e outros tipos de entretenimanto, quando o videogame surgiu não faltaram críticas. Foi acusado de ser alienante, de reduzir as relações interpessoais, de viciar, estragar a acuidade visual, incitar a violência e outras coisas mais. Curioso que estas mesmas críticas foram feitas ao aparelho de televisão...

Décadas se passaram até que o videogame passasse a ser visto como um instrumento de integração, um estimulador de habilidades humanas e, porque não, como um grande divertimento. Só que nos últimos anos ele se tornou algo muito maior e mais importante. Ele passou a ser rentável. A indústria do videogame veio batendo um recorde atrás do outro nos últimos dez anos e culminou com a histórica marca de um bilhão de dólares arrecadados na venda de um único game: Guitar Hero III. Para se ter uma idéia do que isso representa, até hoje apenas 3 filmes conseguiram atingir esta quantia. O último filme do Batman, Dark Knight, está tentando chegar a este patamar com um relançamento previsto para o mês que vem.

Quando eu era criança, os videogames costumavam pegar carona em outras mídias. O jogo era lançado em função de um filme ou de um seriado. Ainda hoje isso acontece. Não há um lançamento de desenho animado, seja da Pixar ou da Dreamworks, que não venha acompanhado de seu respectivo game. Filmes de ação ou de super-heróis então são perfeitos para isso. Mas pela primeira vez na história vem acontecendo o inverso. As outras mídias estão pegando carona no mundo dos games. Filmes começam a ser feitos a partir de personagens que antes só existiam nos jogos. Mas o caso mais espantoso deste fenômeno talvez seja em relação à indústria fonográfica. Graças ao jogo Guitar Hero III, onde você simula a carreira de um astro do rock tocando sua guitarra, a quase sexagenária banda Aerosmith teve as vendas de seu último álbum triplicadas. E todos sabem a crise que este setor enfrenta por causa da troca de arquivos de música pela internet. Eu mesmo não compro um cd há mais de uma década.

Não me parece difícil entender o porque deste fenômeno dos games. O entretenimento nasceu com o teatro, o cinema e em seguida com a TV, três formas passivas de diversão. Você sentava e assistia. Simples. Os games trouxeram a interatividade e foi isto que atraiu cada vez mais fãs. Claro que no começo os gráficos pobres não colaboravam com a experiência de imersão. Mas a tecnologia se encarregou de mudar isso. Processadores potentes e telas enormes de cristal líquido em alta resolução conseguem colocar o jogador dentro da ação. Assistir Spiderman no cinema é ótimo, mas experimentar a vertigem dele se balançando entre os prédios de Nova York é muito melhor. Hoje você pode ser literalmente qualquer coisa através dos games. Acredite. Há simuladores para tudo, todos os heróis estão representados, os maiores personagens do cinema podem ser vividos por você. Um mundo novo de emoções cada vez mais realistas e viciantes.

Fico muito feliz que o mundo comece a enxergar os videogames de forma diferente. Porque, como tudo na vida, os games tem um lado bom e um ruim. Eles podem viciar, podem tirá-lo da realidade e podem até incitar a violência em pessoas propensas ou crianças com jogos fora de sua faixa etária. Mas, mais estúpido do que só enxergar estes problemas, é não perceber os benefícios e os prazeres deste tipo de entretenimento. Eu posso falar porque jogo muito, todo tipo de game e há muitos anos. E não sou nenhum sociopata. Eu recomendo. Com moderação!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Tempo de Mudança

Em poucos dias um sonho se tornará realidade. Foram 46 anos de espera desde que Martin Luther King compartilhou seu sonho num discurso. E ele não queria nada complicado como a paz mundial ou a distribuição de riquezas ou terras. Ele apenas dizia que almejava uma nação onde seus filhos não fossem julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter.

Mais de quatro décadas depois, o pastor pode finalmente sorrir. Um negro derrotou um branco nas urnas e a cor da pele não importou desta vez. Foi seu caráter que falou mais alto. Um negro está a poucos dias de ocupar o cargo político mais importante do planeta e, apoiando-o ou não, este é um fato histórico mundial.

Porque a história dos negros na américa do norte é tão ou mais dolorosa do que a de seus pares no Brasil. Desde 1619, quando o primeiro navio chegou trazendo vinte escravos, até 1808, quando tal comércio foi suspenso, estima-se que mais de um milhão de africanos foram violentamente tirados de sua terra e levados para a América, onde viveram e morreram em condições degradantes. Mesmo assim o século seguinte continuou sendo de luta contra o preconceito e a segregação.

Até que em 1955 a senhora Rosa Parks decide por um fim ao regime imposto, e não cede seu lugar para um homem branco dentro de um ônibus. O que aconteceu depois disso é mais ou menos conhecido de todos. Foram anos de lutas, prisões, protestos e discursos como o de Luther King, e que ajudaram a América a desembocar neste momento histórico. Estou orgulhoso por eles. Orgulhoso por cada negro americano, mas principalmente por cada um dos brancos que votou em Barack Obama, por terem vencido séculos de preconceito. Finalmente um negro foi julgado por seu caráter. Faça um bom ou um mau governo, Obama assegurou seu lugar na história, como o homem que mudou o rumo de uma nação. E isso não é pouca coisa.

Embora eu seja claramente caucasiano, branquelo de olhos verdes, eu já sofri os horrores do preconceito quando namorei uma menina que tinha a pele (pouca coisa) mais escura do que a minha. Os tiros vieram de todos os lados, desde estranhos olhares das pessoas nas ruas, até de minha família. Eu sei como dói e por isso sou tão solidário e libertário em relação a estas amarras estúpidas. Estou feliz pelo destino de um planeta. Uma nova porta se abriu. Uma porta que vinha sendo forçada a décadas por muita gente boa e corajosa e que agora foi arromabada de vez. E sem que nenhuma arma fosse usada. Ensine a seus filhos quem foram estas pessoas que, pouco a pouco, ajudaram a mudar toda uma sociedade.

- Nat Turner - liderou a primeira rebelião de escravos na Virginia, em 1831.
- Hiram Revels - primeiro senador negro eleito, em 1870.
- Joseph Rainey - primeiro deputado negro eleito, 1870.
- Jackie Robinson - primeiro negro na liga profissional de baseball, em 1947.
- Rosa Parks - primeira mulher a desobedecer uma lei segregacionista, 1955.
- James Meredith - primeiro estudante negro numa Universidade, em 1962.
- Malcom X - líder pelos direitos civis assassinado, em 1965.
- Martin Luther King - líder pelos direitos civis assassinado, em 1968.
- Jesse Jackson - primeiro candidato negro à presidência, em 1984.
- Douglas Wilder - primeiro governador negro eleito, em 1989.
- Carol Braun - primeira senadora negra eleita, em 1992.
- Colin Powell - primeiro secretário de estado negro, em 2001.

Fica o meu agradecimento e meu reconhecimento por cada uma delas.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

KYW - Ü

E finalmente chegou a nova reforma ortográfica. Confesso que de início eu me assustei com a idéia. Ainda que eu seja um escritor eventual de poucos e suspeitos fãs, sei que tenho deficiências no uso da língua escrita. Embora meus poucos leitores estejam sempre elogiando meus textos, eu me encontro num nível médio em relação ao conhecimento da língua. Claro que eu não separo sujeito do verbo com vírgula mas tenho visíveis dificuldades no uso da crase.

O fato é que eu fui alfabetizado poucos anos depois da última grande reforma, quando os acentos diferencias foram extintos. Ortograficamente eu não tive dificuldades ao longo do meu período escolar. Meus problemas durante ente período estavam em outras disciplinas. Quem viveu nos anos 70 e 80 sabe do que estou falando. Na economia os zeros eram cortados das moedas e estas tiveram seu nome alterado inúmeras vezes. Consequências de uma inflação louca que, mais do que zeros, consumia nosso salário e paciência. E na geografia? Estados foram desmembrados e novos criados, territórios foram extintos, e a todas estas os estudantes rabiscando e remendando seus mapas.

Mas eu gostei desta nova reforma. Na verdade, assim que ouvi os rumores em relação ao trema, eu mesmo tratei de abolir o mesmo do meu teclado. Cheguei a alterar a correção automática no Word para não ser mais avisado de sua ausência como se aquilo fosse o fim do mundo. Sempre odiei o trema. Aqueles dois pontos em cima do "U" me incomodavam por vários motivos. Pra começar porque só o "U" é digno de usá-lo? Porque esta letra se acha tão mais importante que as outras para ter um sinal próprio? Assim como a cedilha e a crase o trema torna uma letra mais esnobe. Agudos, circunflexos e até o sinuoso til são usados por vogais em geral. Mas aqueles sinais arcaicos escolheram suas favoritas e a elas se agarraram com avareza. Vaia pra eles. Outro motivo pelo qual o trema me chateia é a sua alusão às linguas germânicas e nórdicas. Mas lá, diferente de cá, o trema é usado numa escala muito maior e com visível propósito fonético, alterando completamente a pronúncia da letra. Aqui era apenas uma questão de ler ou ignorar a presença do "U". Se o "U" não precisa ser pronunciado, que o retirem em vez de colocar os malditos pontos para chamar a atenção daqueles que precisam.

Quanto ao K, W e Y, só posso dizer uma coisa: nunca entendi porque eles eram clandestinos no alfabeto. Desde que me entendo por gente eles estavam lá, presentes no dia a dia. Eu escovava os dentes com Kolynos (para os mais novos, o antigo nome do dentifrício Sorriso), tinha um amigo chamado Wilson (que não era uma bola de vôlei) e me esbaldava tomando sorvete da Yopa (atual Nestlé). Agora aceitam estas letras como se elas tivessem surgido do nada, recém cunhadas por algum acadêmico? Então meu passado todo foi uma farsa criada em cima de letras que não existiam mas estavam ali? Fantasmas gráficos, espectros literários, falácias do vernáculo!

E o hífen? O que dizer de um tracinho que cheira a naftalina e que já estava tão fora de moda quanto o seu parônimo, o hímen. Pois que se rompam as regras e ambos sejam mandados para a posteridade. Reformas recebidas, aceitas e incorporadas, obrigado. Quem quiser beijar os falecidos que beije, porque vou fechar a tampa. Chega de exéquias. Descansem em paz.

Minha única preocupação é quanto ao que fazer com o espaço que acaba de vagar no meu teclado. O que colocar em cima do 6? Sugestões para o meu e-mail. Ou para o do Bill Gates, sei lá.