quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Press Start

Já escrevi neste blog sobre minha íntima relação com videogames. E fico muito feliz que a relação do mundo com este equipamento venha mudando tão vertiginosamente. Porque, assim como a TV, a internet e outros tipos de entretenimanto, quando o videogame surgiu não faltaram críticas. Foi acusado de ser alienante, de reduzir as relações interpessoais, de viciar, estragar a acuidade visual, incitar a violência e outras coisas mais. Curioso que estas mesmas críticas foram feitas ao aparelho de televisão...

Décadas se passaram até que o videogame passasse a ser visto como um instrumento de integração, um estimulador de habilidades humanas e, porque não, como um grande divertimento. Só que nos últimos anos ele se tornou algo muito maior e mais importante. Ele passou a ser rentável. A indústria do videogame veio batendo um recorde atrás do outro nos últimos dez anos e culminou com a histórica marca de um bilhão de dólares arrecadados na venda de um único game: Guitar Hero III. Para se ter uma idéia do que isso representa, até hoje apenas 3 filmes conseguiram atingir esta quantia. O último filme do Batman, Dark Knight, está tentando chegar a este patamar com um relançamento previsto para o mês que vem.

Quando eu era criança, os videogames costumavam pegar carona em outras mídias. O jogo era lançado em função de um filme ou de um seriado. Ainda hoje isso acontece. Não há um lançamento de desenho animado, seja da Pixar ou da Dreamworks, que não venha acompanhado de seu respectivo game. Filmes de ação ou de super-heróis então são perfeitos para isso. Mas pela primeira vez na história vem acontecendo o inverso. As outras mídias estão pegando carona no mundo dos games. Filmes começam a ser feitos a partir de personagens que antes só existiam nos jogos. Mas o caso mais espantoso deste fenômeno talvez seja em relação à indústria fonográfica. Graças ao jogo Guitar Hero III, onde você simula a carreira de um astro do rock tocando sua guitarra, a quase sexagenária banda Aerosmith teve as vendas de seu último álbum triplicadas. E todos sabem a crise que este setor enfrenta por causa da troca de arquivos de música pela internet. Eu mesmo não compro um cd há mais de uma década.

Não me parece difícil entender o porque deste fenômeno dos games. O entretenimento nasceu com o teatro, o cinema e em seguida com a TV, três formas passivas de diversão. Você sentava e assistia. Simples. Os games trouxeram a interatividade e foi isto que atraiu cada vez mais fãs. Claro que no começo os gráficos pobres não colaboravam com a experiência de imersão. Mas a tecnologia se encarregou de mudar isso. Processadores potentes e telas enormes de cristal líquido em alta resolução conseguem colocar o jogador dentro da ação. Assistir Spiderman no cinema é ótimo, mas experimentar a vertigem dele se balançando entre os prédios de Nova York é muito melhor. Hoje você pode ser literalmente qualquer coisa através dos games. Acredite. Há simuladores para tudo, todos os heróis estão representados, os maiores personagens do cinema podem ser vividos por você. Um mundo novo de emoções cada vez mais realistas e viciantes.

Fico muito feliz que o mundo comece a enxergar os videogames de forma diferente. Porque, como tudo na vida, os games tem um lado bom e um ruim. Eles podem viciar, podem tirá-lo da realidade e podem até incitar a violência em pessoas propensas ou crianças com jogos fora de sua faixa etária. Mas, mais estúpido do que só enxergar estes problemas, é não perceber os benefícios e os prazeres deste tipo de entretenimento. Eu posso falar porque jogo muito, todo tipo de game e há muitos anos. E não sou nenhum sociopata. Eu recomendo. Com moderação!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Tempo de Mudança

Em poucos dias um sonho se tornará realidade. Foram 46 anos de espera desde que Martin Luther King compartilhou seu sonho num discurso. E ele não queria nada complicado como a paz mundial ou a distribuição de riquezas ou terras. Ele apenas dizia que almejava uma nação onde seus filhos não fossem julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter.

Mais de quatro décadas depois, o pastor pode finalmente sorrir. Um negro derrotou um branco nas urnas e a cor da pele não importou desta vez. Foi seu caráter que falou mais alto. Um negro está a poucos dias de ocupar o cargo político mais importante do planeta e, apoiando-o ou não, este é um fato histórico mundial.

Porque a história dos negros na américa do norte é tão ou mais dolorosa do que a de seus pares no Brasil. Desde 1619, quando o primeiro navio chegou trazendo vinte escravos, até 1808, quando tal comércio foi suspenso, estima-se que mais de um milhão de africanos foram violentamente tirados de sua terra e levados para a América, onde viveram e morreram em condições degradantes. Mesmo assim o século seguinte continuou sendo de luta contra o preconceito e a segregação.

Até que em 1955 a senhora Rosa Parks decide por um fim ao regime imposto, e não cede seu lugar para um homem branco dentro de um ônibus. O que aconteceu depois disso é mais ou menos conhecido de todos. Foram anos de lutas, prisões, protestos e discursos como o de Luther King, e que ajudaram a América a desembocar neste momento histórico. Estou orgulhoso por eles. Orgulhoso por cada negro americano, mas principalmente por cada um dos brancos que votou em Barack Obama, por terem vencido séculos de preconceito. Finalmente um negro foi julgado por seu caráter. Faça um bom ou um mau governo, Obama assegurou seu lugar na história, como o homem que mudou o rumo de uma nação. E isso não é pouca coisa.

Embora eu seja claramente caucasiano, branquelo de olhos verdes, eu já sofri os horrores do preconceito quando namorei uma menina que tinha a pele (pouca coisa) mais escura do que a minha. Os tiros vieram de todos os lados, desde estranhos olhares das pessoas nas ruas, até de minha família. Eu sei como dói e por isso sou tão solidário e libertário em relação a estas amarras estúpidas. Estou feliz pelo destino de um planeta. Uma nova porta se abriu. Uma porta que vinha sendo forçada a décadas por muita gente boa e corajosa e que agora foi arromabada de vez. E sem que nenhuma arma fosse usada. Ensine a seus filhos quem foram estas pessoas que, pouco a pouco, ajudaram a mudar toda uma sociedade.

- Nat Turner - liderou a primeira rebelião de escravos na Virginia, em 1831.
- Hiram Revels - primeiro senador negro eleito, em 1870.
- Joseph Rainey - primeiro deputado negro eleito, 1870.
- Jackie Robinson - primeiro negro na liga profissional de baseball, em 1947.
- Rosa Parks - primeira mulher a desobedecer uma lei segregacionista, 1955.
- James Meredith - primeiro estudante negro numa Universidade, em 1962.
- Malcom X - líder pelos direitos civis assassinado, em 1965.
- Martin Luther King - líder pelos direitos civis assassinado, em 1968.
- Jesse Jackson - primeiro candidato negro à presidência, em 1984.
- Douglas Wilder - primeiro governador negro eleito, em 1989.
- Carol Braun - primeira senadora negra eleita, em 1992.
- Colin Powell - primeiro secretário de estado negro, em 2001.

Fica o meu agradecimento e meu reconhecimento por cada uma delas.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

KYW - Ü

E finalmente chegou a nova reforma ortográfica. Confesso que de início eu me assustei com a idéia. Ainda que eu seja um escritor eventual de poucos e suspeitos fãs, sei que tenho deficiências no uso da língua escrita. Embora meus poucos leitores estejam sempre elogiando meus textos, eu me encontro num nível médio em relação ao conhecimento da língua. Claro que eu não separo sujeito do verbo com vírgula mas tenho visíveis dificuldades no uso da crase.

O fato é que eu fui alfabetizado poucos anos depois da última grande reforma, quando os acentos diferencias foram extintos. Ortograficamente eu não tive dificuldades ao longo do meu período escolar. Meus problemas durante ente período estavam em outras disciplinas. Quem viveu nos anos 70 e 80 sabe do que estou falando. Na economia os zeros eram cortados das moedas e estas tiveram seu nome alterado inúmeras vezes. Consequências de uma inflação louca que, mais do que zeros, consumia nosso salário e paciência. E na geografia? Estados foram desmembrados e novos criados, territórios foram extintos, e a todas estas os estudantes rabiscando e remendando seus mapas.

Mas eu gostei desta nova reforma. Na verdade, assim que ouvi os rumores em relação ao trema, eu mesmo tratei de abolir o mesmo do meu teclado. Cheguei a alterar a correção automática no Word para não ser mais avisado de sua ausência como se aquilo fosse o fim do mundo. Sempre odiei o trema. Aqueles dois pontos em cima do "U" me incomodavam por vários motivos. Pra começar porque só o "U" é digno de usá-lo? Porque esta letra se acha tão mais importante que as outras para ter um sinal próprio? Assim como a cedilha e a crase o trema torna uma letra mais esnobe. Agudos, circunflexos e até o sinuoso til são usados por vogais em geral. Mas aqueles sinais arcaicos escolheram suas favoritas e a elas se agarraram com avareza. Vaia pra eles. Outro motivo pelo qual o trema me chateia é a sua alusão às linguas germânicas e nórdicas. Mas lá, diferente de cá, o trema é usado numa escala muito maior e com visível propósito fonético, alterando completamente a pronúncia da letra. Aqui era apenas uma questão de ler ou ignorar a presença do "U". Se o "U" não precisa ser pronunciado, que o retirem em vez de colocar os malditos pontos para chamar a atenção daqueles que precisam.

Quanto ao K, W e Y, só posso dizer uma coisa: nunca entendi porque eles eram clandestinos no alfabeto. Desde que me entendo por gente eles estavam lá, presentes no dia a dia. Eu escovava os dentes com Kolynos (para os mais novos, o antigo nome do dentifrício Sorriso), tinha um amigo chamado Wilson (que não era uma bola de vôlei) e me esbaldava tomando sorvete da Yopa (atual Nestlé). Agora aceitam estas letras como se elas tivessem surgido do nada, recém cunhadas por algum acadêmico? Então meu passado todo foi uma farsa criada em cima de letras que não existiam mas estavam ali? Fantasmas gráficos, espectros literários, falácias do vernáculo!

E o hífen? O que dizer de um tracinho que cheira a naftalina e que já estava tão fora de moda quanto o seu parônimo, o hímen. Pois que se rompam as regras e ambos sejam mandados para a posteridade. Reformas recebidas, aceitas e incorporadas, obrigado. Quem quiser beijar os falecidos que beije, porque vou fechar a tampa. Chega de exéquias. Descansem em paz.

Minha única preocupação é quanto ao que fazer com o espaço que acaba de vagar no meu teclado. O que colocar em cima do 6? Sugestões para o meu e-mail. Ou para o do Bill Gates, sei lá.