quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Alimentando a Alma



Nesses tempos de mensalões e explosões de violência seja em São Paulo ou na Palestina, é raro nos deparamos com boas notícias. E quando digo boas, me refiro especificamente àquelas notícias que renovam as nossas esperanças de vivermos um dia num mundo melhor.

Pois ultimamente tenho vivido momentos que alimentam essa minha esperança em doses generosas. Por razões profissionais, semanalmente passo algumas horas na companhia de pessoas que escolheram o caminho menos óbvio em suas profissões. Optaram pelo difícil, pelo complicado. Por algum motivo não explicado, este pequeno grupo de dezoito pessoas decidiu que o básico, o usual, o corriqueiro não lhes bastava.

Estou me referindo à equipe de profissionais do PNE Sports, projeto administrado pelo Instituto IDEAS, em parceria com a Universidade Castelo Branco e o patrocínio da Petrobras. Em sua terceira edição, o projeto atende atualmente 82 pessoas especiais utilizando o esporte como ferramenta de desenvolvimento, superação e integração de crianças, adolescentes e adultos com patologias como síndrome de down, autismo e até paralisia cerebral.

São professores de educação física, pedagogos, psicóloga e assistentes sociais que resolveram mudar o pequeno espaço em volta deles. E com isso realizam grandes transformações na vida de outras pessoas. Sou testemunha do quanto este pequeno grupo é capaz de mudar a realidade justamente daqueles que são os mais esquecidos. E posso afirmar com toda certeza: tentar incluir aqueles que são diária e sistematicamente excluídos desde que o mundo é mundo é tarefa hercúlea.

Só o fato de existir pessoas assim já faz com que a esperança seja renovada. A cada visita que faço ao projeto, sou alimentado com essa sensação. Não raro tenho que segurar as lágrimas, disfarçar e voltar a me concentrar no meu trabalho administrativo. Mas invariavelmente saio de lá com duas certezas: a coisa não está perdida e eu sou muito, mas muito abençoado pelo que tenho. Voltando de lá fica impossível me aborrecer com o trânsito, com a van que me fechou, com a grana que tá curta ou com a tosse que já me acompanha há uma semana. Tudo fica menor depois do que estes 18 profissionais gentilmente “esfregam” na minha cara.

Este texto é dedicado a vocês: Carla Beatriz, Catula, Elaine, Evaldo, Fernando, Lauro, Luciana, Luene Regina, Márcio, Mary Lucy, Michele, Odinei, Priscila, Ricardo, Roberto Charles, Rosana e Sheila. Obrigado a cada um de vocês por terem escolhido o caminho mais incomum. Quando a maioria seguiu pela estrada já asfaltada, vocês preferiram seguir pelo mato. E munidos de um pequeno canivete. Talvez sejam loucos, mas são sempre os doidos que mudam as coisas.

Vocês me lembram da antropóloga americana Margaret Mead, com quem vocês têm muito em comum. Afinal ela também era professora e, assim como vocês, concentrou seus estudos nos problemas das crianças e suas personalidades. Disse ela:


“Nunca duvide de que um pequeno grupo de pessoas profundamente comprometidas pode mudar o mundo; na verdade é a única coisa que pode mudá-lo”. 

Não se esqueçam disso, nunca.
Porque especiais são vocês.


sexta-feira, 11 de maio de 2012

Trabalho em Equipe


Quem me acompanha aqui sabe da minha admiração pelo sexo feminino. Sabe igualmente que eu compartilho da teoria mista do Veríssimo, segundo a qual a Igreja e Darwin estão certos. Darwin explica o surgimento do homem, desvio direto da linhagem dos macacos. A Deus coube a criação da mulher e basta observá-las por alguns minutos para ter certeza disso.
Mas hoje me perguntei: E se eu fosse criar uma mulher, como eu a faria? A quem pediria ajuda? Quem chamaria para compor a equipe de criação? E por incrível que pareça, não foi uma tarefa muito difícil.
Comecei pelos cabelos e o que não falta lá em cima é cabeleireiro famoso pra dar pitaco. Denner, Silvinho... Mas optei por alguém menos técnico e mais apreciador: José de Alencar. Quem melhor do que o criador de Iracema, com seus cabelos pretos como as asas da graúna, para decidir as melhores madeixas?
Cabelos penteados, passei ao rosto. Os olhos, janelas da alma, precisavam ter a beleza estética aliada à profundidade dos sentimentos que irradiariam. Santa Luzia responsável eterna por todos os olhos dedicou-se com amor a esta tarefa. 
Passei para a boca e aqui não restou dúvida. Da Vinci, criador do sorriso mais enigmático do mundo em sua Gioconda, supervisionou cada detalhe. Mas contando com os palpites empolgados de apreciadores do gênero, como Casanova e, porque não, Pedro I.
Cheguei ao corpo e o entreguei a maior e mais qualificada das equipes. Liderada por Michelangelo, com a ajuda dos cinzéis de Rodin e Donatello e as delicadas palhetas de Botticelli e Botero, pra garantir generosidade nas curvas. Seios opulentos, pernas bem fornidas, nádegas redolentes, tudo cuidadosamente discutido, esculpido e pincelado com o melhor de cada um. Mas, para a estranheza de muitos, coloquei todos sob a consultoria mais que adequada de Vinicius de Moraes, um grande degustador e profundo conhecedor do gênero.
Pra finalizar a obra prima coletiva, veio Machado com sua carioquice e morenice característicos para dar o tempero e o arremate.
Ao término de tudo lá estava ela. Perfeita? Não, longe disso, porque eu queria uma mulher de verdade e não algo inatingível, fruto de sonhos e expectativas desmedidas. A mulher criada era simples embora marcante. Era linda em seu conjunto, capaz de chamar a atenção no meio de outras.
E assim ela chamou a minha atenção em meio a tantas. Foi o olhar e o sorriso que me fizeram dar a segunda olhada. Todo o resto é história. E das mais lindas. Quem é ela, vc pergunta? Eu digo com todas as letras, porque esta mulher é de carne e osso.

Obrigado, Claudia, por ter tropeçado na minha vida e transformado ela de forma tão surpreendente.