sexta-feira, 25 de abril de 2008

Democracia?

Recentemente eu descobri um novo Blog que virou visita diária obrigatória. Bruno Mazzeo (link ao lado) é um espanto pela simplicidade e humor do seu texto, sempre ponteado por críticas mais do que pertinentes. De longe é meu tipo favorito de escritor. Junto com o Antonio Tabet do Kibe Loco, Bruno está se tornando um centralizador de debates. Ainda que contra sua vontade. E desta vez Bruno levantou uma bola que acabou me dando o gancho para algo que há muito eu venho amadurecendo.
Na verdade esse assunto começou a brotar na minha cabeça há mais de dez anos, numa conversa que tive com um americano. Ok, você está com razão, em dez anos dava pra ter escrito 3 livros sobre o assunto, mas a preguiça, o trabalho, o feriado e aquele temporal de 2004 me atrasaram um pouco. E também você não teria saco de ler 3 volumes de um assunto desagradável como os problemas dessa tão amada nação. Mas aqui vai.

Eu tentava explicar para esse amigo como era a nossa democracia. Ele estava curioso sobre o fato do Brasil ter passado por um período de ditadura e sobre como se deu a abertura e a redemocratização. Após contar sobre alguns de nossos direitos e deveres do cidadão, listados logo no começo de nossa Constituição Federal, fui surpreendido com uma afirmação: "Então o Brasil ainda não é uma democracia!". Claro que eu me senti ofendido e saí em defesa do nosso país sem conseguir convencê-lo do contrário. No final do papo o assunto já havia mudado pra alguma amenidade qualquer e, quando acabou, eu fiquei com a pulga atrás da orelha. Dias depois eu ainda gastava tempo pensando nisso e acabei dando razão ao americano. O Brasil realmente ainda não é uma democracia plena. E digo isso mais de dez anos depois do autor original da frase.
Pra começar, um dos direitos fundamentais do cidadão que é o de ir e vir, não pode ser exercido em sua totalidade. Porque no meio do caminho entre ir e vir o cidadão do sexo masculino é obrigado a parar e prestar o serviço militar. Não há escolha. E depois que o quartel o dispensar ele também precisa interromper suas idas e vindas a cada 2 ou 4 anos para se dirigir até a uma seção eleitoral e votar. Ainda que a propaganda do TSE repita insistentemente que "o voto é um direito do cidadão", entenda que não é. Se fosse um direito como qualquer outro, você poderia abrir mão dele, de acordo com sua vontade e conveniência. Mas ele é obrigatório e não sufragar o dito cujo a cada eleição lhe trará algumas consequências, como multas e certos impedimentos civis como participar de concursos públicos, sair do país e coisas do gênero.

Então não me venha com essa de democracia. Numa democracia o cidadão é livre para fazer o que bem entender, respeitando obviamente o direito do próximo e sem causar danos a qualquer pessoa. Por isso eu desertei e esperei completar 30 anos para conseguir o meu certificado de reservista (pagando uma multa de cerca de 50 reais) e não voto desde que o Lula se reelegeu. Não faço campanha contra o voto, acredito no poder de mudança que ele tem, acredito na eleição como um instrumento de renovação, mas simplesmente eu cansei. Desacreditei. Passei a bola para o meu filho; agora é com ele. Até segunda ordem (ou até aparecer alguém em quem eu realmente acredite e confie) eu não sou eleitor. Abri mão do meu "direito".
Onde quer que você esteja, meu caro Jarret Rose, você estava certo. And I apologize. Sincerely.

Um comentário:

Ana Lúcia Prôa disse...

Isso me fez lembrar de uma eleição passada qualquer (nem me lembro qual), na qual eu não queria votar em ninguém e decidi aproveitar o "feriado" pra cair na estrada. Eu, meu marido e um casal de amigos saímos cedo no fatídico dia rumo a Ibitipoca (paraíso em Minas Gerais...). Chegando no pé da serra, na cidadezinha de Lima Duarte (a cidade não é DO Lima Duarte, é apenas o nome da cidade, nada a ver com o ator...), entramos numa agência do correio, não enfrentamos fila e justificamos nosso impedimento de votar. Foi tão fácil!!!!! Não sei por que nunca mais repeti a "aventura". Acho que, depois de ler o seu texto,vou pensar seriamente nessa hipótese. Bem melhor do que votar, quando nada parece fazer sentido... BEIJOS!