domingo, 6 de julho de 2008

Brontossauro na Brasa

Hoje é domingo e acabei lembrando de algo que, se não é tipicamente masculino, certamente é uma atividade regida pelos homens - o churrasco de fim de semana. É uma daquelas situações onde a diferença entre homens e mulheres fica bem clara.

Tudo começa com um decreto do homem da casa dizendo para a mulher que ela pode descansar porque o almoço do dia vai ficar por conta dele. Ele então passa a demonstrar uma empolgação e um empenho que a mulher adoraria ver empregada em outras áreas do casamento – como ajudar a mudar a arrumação dos móveis da sala, por exemplo. Primeiro ele liga para os amigos convidando apenas os mais íntimos, o que gira em torno de vinte pessoas. O cara vai pra cozinha prepara as peças de carne, monta os espetos e a churrasqueira, ateia fogo ao carvão e abre a primeira lata de cerveja. Os amigos vão chegando e a mulher que segundo a promessa matinal deveria estar de folga, está na cozinha preparando o arroz, a maionese, a farofa, o molho à campanha e correndo no mercado pra comprar a batata palha porque um pacote não vai alimentar a tropa toda. Ele reclama que churrasco é feito de carne e que esse monte de comida é desnecessário. Ela ignora.

Nesse momento a casa já está cheia de gente e a ela corre como louca para colocar uma toalha, pratos, talheres, guardanapos e travessas, tentando dar uma sensação mínima de civilização ao banquete masculino. Ele reclama novamente alegando que tudo isso é frescura e basta um garfo pra cada um, menos pra ele que já usou os dedos e limpou na bermuda. Uma das mulheres pede um pedaço bem passado de picanha e ouve impropérios. Churrasco tem que ser cru, quase mugindo. Pelo menos pela cartilha masculina.

É nítida a divisão do ambiente. Os homens em volta da churrasqueira pegando lascas de carne com a ponta dos dedos e, no máximo, mergulhando na travessa de farofa, para desespero da dona da casa. As mulheres – oásis de educação e higiene – ficam sentadas com seus pratos à mão, degustando todo o buffet e tendo que disputar alguns pedaços de carne com os trogloditas.

Ao final de algumas horas as mulheres comem a sobremesa com a mesma delicadeza enquanto os homens ainda atacam o que sobrou nos espetos. Sobremesa de homem é mais uma lata de cerveja, coisa que o anfitrião anuncia logo depois de soltar um sonoro arroto. Os homens gargalham e as mulheres dão um sorriso amarelo, menos a anfitriã que já está cansada e pensa em toda a louça que ainda tem pra lavar. Na verdade ela preferia que ele e todos os seus amigos estivessem jogando uma pelada...

Não adianta forçar a barra. Eu estou convencido de que homens e mulheres são de espécies diferentes que, por uma ajudinha divina, são compatíveis geneticamente. E isso é apenas para garantir a perpetuação de ambos. Nós sempre seremos como nossos antepassados das cavernas, só que bem barbeados. E elas estarão sempre tentando nos trazer para a civilização. É assim desde que o primeiro hominídeo equilibrou-se nos membros inferiores e tornou-se bípede. Com as mãos livres pela nova postura, o homem passou a caçar, bater e outras “troglodices”, enquanto a mulher foi ajeitar a caverna para que ficasse mais aconchegante, numa versão primitiva do lar.

Nenhum de nós mudou nos últimos 30 mil anos. Ainda somos os machos que disputam território, que buscam a fêmea mais atraente para a reprodução (ainda que os padrões tenham variado ao longo dos séculos) e que almejam a liderança do grupo. E as mulheres continuam zelando pelo lar, pela unidade familiar e pela prole. O mundo civilizado nos levou a misturar características e nos adaptar, mas nossa essência sempre será essa. Podemos até representar papéis diferentes com extrema desenvoltura. Um homem bem comportado num batizado às 9 da manhã de um domingo está segurando seus instintos. Mas se num mesmo domingo ele está em volta de uma churrasqueira, aquele é o verdadeiro homem. Não adianta lutar contra isso. São milênios de convivência. Aprendemos a nos amar e a nos respeitar desta forma. Se julgarmos pela quantidade de pessoas neste planeta, não podemos negar que a fórmula tem feito sucesso. Eu não mudaria nada. No máximo, como sugeriu o Veríssimo certa vez, colocaria um par de seios extra nas costas delas. Mas isso é outro assunto.

2 comentários:

Helena Vox disse...

Mais uma vez vc acertou em cheio. Sempre que homem inventa de fazer churrasco é a mulher que se lasca! O pior é ter que limpar a sujeirada toda depois. Um saco!
Otimo post, adorei!
Bjos

Ana Lúcia Prôa disse...

Ai, Fernando! Adorei! Do início ao fim, achando o desfecho genial. Ainda bem que eu sou bem "masculina" no quesito 'churrasco': fico com a turma da cerveja e nem chego perto da louça, hahaha!

BEIJOS GRANDES!