quinta-feira, 17 de julho de 2008

Revolvendo o Lodo

Há uma semana venho sofrendo uma tentativa de censura ao meu texto anterior, por conta de um trecho onde confesso meus crimes e aponto o de outros. Não acho que eu deva explicações a quem quer que seja, até porque a liberdade de expressão é um dos meus direitos, assim como é meu dever arcar com as consequências do que digo. Por outro lado, fiquei muito incomodado com o questionamento da veracidade do que escrevi e resolvi prolongar o assunto. Pela última vez.

Em primeiro lugar o meu texto usou de uma linguagem pesada que tinha como intenção maior o meu próprio desabafo e uma leve esperança de provocar uma reação. Tentar tirar o povo da apatia. A grande mensagem do texto era "Todos nós somos corruptos, sem nenhuma exceção. Crescemos assim, cercados por isso, vivendo isso e repetindo isso. Mas talvez seja a hora de mudar." E para exemplificar o que eu dizia citei o meu próprio caso e o daqueles mais próximos a mim.

Quando citei os meus "crimes" eu poderia ter incluído não apenas a propina aos PMs. Poderia contar também das inúmeras vezes que furtei doces nas Lojas Americanas ou as poucas vezes em que furtei fitas K7 numa antiga loja de discos. Poderia até mesmo citar o episódio em que cometi um erro médico quando era estagiário de medicina e, por orientação de um médico, liberei um paciente com sintomas de gripe com apenas uma medicação para a febre. O mesmo paciente retornou horas depois carregado nos braços de um parente - estava morto por meningite. Homicídio culposo? Talvez. Afinal, para os parentes, eu era o cara de branco que atendeu, medicou e liberou o paciente. Eu era o assassino, embora nenhum tribunal pudesse me condenar por isso.

Da mesma forma, quando citei os crimes de outros, poderia ter ido muito além das propinas. Poderia citar os furtos de energia elétrica, de água, os crimes ambientais como o despejo de dejetos em águas pluviais, a posse de arma de fogo não registrada e até mesmo a sonegação fiscal. Mas a intenção do texto não era apontar erros específicos ou expiar as minhas faltas através das falhas de outros. Não era acusar ou "dedurar" quem quer que fosse. Era apenas mostrar que o comportamento errado do brasileiro é passado de uma geração para a outra de forma tão natural e há tanto tempo, que fomos absorvendo isso como parte da nossa cultura. Eu fiz e os meus fazem. Assim como você e os seus também. O velho argumento do "eu faço porque todo mundo faz". Um moto-contínuo de erros que precisa ser parado imediatamente. Era para ser isso e apenas isso.

Infelizmente eu não posso escolher o meu tipo de leitor. O texto é público e está disponível para todos. Uma jornalista que é assídua ao blog, por exemplo, entendeu a retórica agressiva de meu último parágrafo. Ela me conhece e sabe que eu não pegaria em armas. Outras pessoas jamais entenderão o texto da mesma forma. Cada um usa as ferramentas e as informações que tem para interpretar um texto. Uma questão de background.

O fato é que nada foi feito e desde o último post que as coisas pioraram. Mais erros de PMs apareceram, mais crimes foram cometidos e a apatia continua. Eu lamento porque um dia a situação chagará num ponto sem retorno onde o conflito será inevitável. As animosidades estão aumentando, a intolerância cresce a cada dia e a bomba relógio está ativada. Os ricos fecham as janelas para os pobres, os pobres alimentam ódio contra os ricos, o povo está com raiva da PM, a PM está envergonhada demais para olhar nos olhos do povo, os políticos continuam fazendo o que sempre fizeram e nós continuamos com a bunda na janela esperando o próximo que vai passar a mão nela. Isso não tem como dar certo. Está escrito.

Não há mais nada a ser dito sobre esse assunto. Meu muito obrigado a minha maior incentivadora, minha amiga/leitora/escritora/jornalista, por ter entendido e filtrado as reais intenções por trás da acidez e da raiva. Um beijo com muito carinho.

2 comentários:

Ana Lúcia Prôa disse...

Sou mesmo tudo isso que vc disse de mim: sua incentivadora (não sei se a maior, mas com certeza te verei publicado um dia), sua leitora assídua e sua amiga! Lamento se as pessoas não entenderam o seu texto e lamento mais ainda que a mídia não tenha te dado espaço. E lamento muito o que tem acontecido com as pessoas mortas e feridas por policiais despreparados. Mas talvez faça parte de uma programação divina para expurgo da sociedade de seres que não merecem mais estar aqui, que estão detonando suas últimas oportunidades na Terra... Sei lá... Tantas coisas além da nossa capacidade de entendimento.

Mas uma coisa que entendo bem é de letras. E VC MANDA BEM PRA C...!!!!! Continue expressando suas idéias com essa energia e com seu bom humor de sempre (qd a situação permitir ser bem-humorado...).

BEIJOS GRANDES!

Ana Lúcia Prôa disse...

Ah, esqueci de falar: TB FURTAVA MUITO NAS LOJAS AMERICANAS, KKKKKKK!

BEIJOS!