terça-feira, 1 de julho de 2008

Bodas de Prata - Casado com um Vício

Tenho mais uma confissão para este blog. E desta vez não será tão fácil como das outras vezes. Em se tratando de vícios a exposição total é algo complicado. Mas eu preciso falar sobre isso. Então vamos do começo.

Lembro exatamente da primeira vez que tive contato com ele. Eu tinha 12 anos e até aquele momento só tinha ouvido falar daquela novidade pelos jornais e televisão. Foi na casa de um amigo do meu pai que tive o primeiro contato. Enquanto os adultos se divertiam num canto da enorme casa, eu encontrei a coisa largada sobre uma mesa de centro num outro cômodo. Lembro da curiosidade me consumindo e acabei não resistindo. Tive que experimentar. Como toda novidade, você começa meio desconfiado, sem jeito, mas com o tempo vai se acostumando e quando percebe aquilo já faz parte da sua vida.

Pouco mais de um ano depois do primeiro contato esse mesmo amigo me deu de presente um pacote com tudo eu precisava para me tornar um dependente. Ele estava tentando largar do vício passando a bola para outra pessoa. O que antes era uma curtição de final de semana passou a ser um companheiro diário. Guardado no meu quarto, estava sempre a mão para todas as horas vagas. Antes da escola, depois da escola e às vezes eu até acordava de madrugada para saciar meu vício. Eu já morava num condomínio na Barra e descobri que não era o único dependente. Havia muitos como eu. Reuníamos-nos na casa uns dos outros para horas e horas desfrutando do prazer. Quantas vezes cheguei em casa com os olhos vermelhos, lacrimejando pelo uso abusivo. Passei tardes e tardes sem comer ou beber nada, mal percebendo o avançar das horas.

Os anos foram passando e a evolução me fez desejar os mais potentes, os mais poderosos, que prometiam novas emoções. O antigo já não me dava o prazer que eu desejava. Até que finalmente consegui experimentar a nova geração. O vício estava renovado! E agora as sensações eram mais fortes, o que me fazia gastar ainda mais horas por dia dedicado ao louco vício. Eu já estava com 17 anos e não conseguia parar. Pelo contrário, acompanhava pelos jornais que uma nova geração estava sendo preparada e em breve estaria disponível. Matérias de capa nas revistas mais importantes alertavam para a nova febre e seus riscos. Eu babava só de pensar.

Aos 20 eu trabalhava num hospital e pude comprar com o meu salário o mais potente que existia na época. Chego a me emocionar quando lembro o que senti naquele dia. O poder na ponta dos meus dedos. Até minha namorada compartilhava do mesmo vício. Mais madrugadas de olhos vermelhos. Chegava ao ponto de levá-lo pra onde quer que eu fosse. Até em viagens ele me acompanhava. Diariamente eu procurava a minha dose, senão o dia ficava incompleto. Incrível que meus olhos tenham resistido há tantos anos. Os vasos sanguíneos dilatados, um lacrimejar incessante... Olhar de groselha!

Aos 26 veio o casamento e a loucura maior: minha esposa me presenteou com o que de melhor e mais potente havia na época. Não que ela fosse viciada, mas certamente entendia o quanto aquilo era importante para mim. O quanto era parte fundamental da minha felicidade, ainda que me tirasse da realidade. Porque naquela época a coisa havia ficado tão louca que você se sentia praticamente abduzido pelas sensações. Um mergulho num mundo paralelo de onde era difícil sair. Muitas vezes eu sonhava com os lugares que visitava durante a viagem. Até dormindo eu sentia os efeitos do vício. Num segundo casamento a coisa piorou absurdamente, pois ela também era viciada. A disputa por quem conseguia ir mais longe beirava a insanidade. E muitas vezes ela me deixava para trás no vício.

Estou completando 25 anos de adicção. Hoje moro sozinho e tenho tudo o que eu preciso ao alcance de minhas mãos. Continuo usando e abusando quase diariamente. Ainda acordo de madrugada para matar a vontade. E o mais louco disso tudo é que meu filho de apenas 5 anos também se viciou. Não sei se existe algo de genético nisso, mas procuro fazer com que ele não perca o controle e consiga levar uma vida normal, com escola, amigos e responsabilidades normais de sua idade. É difícil, eu bem sei, mas a verdade é que eu nunca tentei me livrar disso. Pelo contrário, sempre me orgulhei disso, alardeando que eu tenho absoluto controle sobre a coisa. Embora em alguns dias eu perceba que não é bem assim.

Desde o Atari em 1983, passando pelo Nintendo 8 bits, pelo Mega Drive, o Nintendo 64 e meu atual PC lotado de games, eu sempre mantive a coisa sob um certo controle. E este ano estou planejando mais um upgrade. Novas e poderosas sensações me aguardam. Só não me decidi se será com um Nintendo Wii, um X-Box ou com o Playstation 3. Dúvida cruel!

Por favor, ninguém me ajude a sair disso!

3 comentários:

Ana Lúcia Prôa disse...

KKKKKKKK!!!! Tem certos vícios que não dá vontade de largar mesmo... Tb já tive "problemas" com videogame. Comecei com o Atari e fui evoluindo aos poucos. Meu primeiro namorado, com quem fiquei por 7 anos, tb era um viciado! Ficávamos eu, ele e vários amigos num quartinho fazendo uso de videogames cada vez melhores (só que os olhos não ficavam vermelhos só por causa disso, rsrsrs...). Ô passado cruel! Até que enchi o saco. Enchi o saco mesmo!!!! Comecei a achar aquilo tudo ridículo, coisa de quem não tem o que fazer e, hoje em dia, acho o cúmulo um homem feito perder horas com o videogame... Vc escreveu sobre a pelada das terças... Mas e quanto à sua jogatina diária em frente à telinha, kkkkkk!!!! Não sei o que é pior. Sua grande sorte foi ter encontrado mulheres tb aficcionadas... Tomara que a Carol goste de videogames... Mas, como boa madrinha, vou pedir aos céus que ela seja mais equilibrada que as suas ex e te traga de volta ao mundo real (não sempre, mas por mais tempo!!!!).
Mas não fica chateado comigo não! Afinal, a gente não podia gostar de TODAS as coisas igualmente, né? Tava ficando chata essa amizade, kkkk!

Falando do seu texto... Gostei muito do clima de mistério! No início, achei que vc estivesse falando de remédio de nariz (tipo Sorine, Aturgyl...). Mas, no meio, lembrei que vc ama videogame e matei a charada!!! Ficou muito legal, muito bem construído! Vc pode se aventurar, sim, pelo mundo das crônicas, dos contos... do que vc quiser!!!!

BEIJOS GRANDES!!!

(

Unknown disse...

Pensei que vc estivesse curado desse vício, mas vejo que continua o mesmo!!!!!!!Espero que vc não deixe o João entrar nessa.Beijos e juízo querido filho.

Helena Vox disse...

também sofro desse vicio, mas nao consigo largar nem quero! é bom escapar da realidade um pouquinho de vez em quando. amei o texto, achei o maximo o clima que vc criou no começo, rsrsrs
bjos