segunda-feira, 16 de junho de 2008

Peixe à Domicílio

Quando nossos filhos nascem, ao contrário de todos os outros mamíferos, eles não têm capacidade de locomoção. Aliás, fazem muito pouco sozinho, precisando ser alimentados, banhados e vestidos. Sem estes cuidados não sobreviveriam. Então os anos passam, a coordenação motora vai se desenvolvendo e aos poucos vamos ensinando tarefas simples como se vestir, como segurar uma colher e, pouco a pouco eles vão aprendendo. É assim desde que o mundo é mundo, ou pelo menos desde que passamos a habitar cavernas e deixamos as fêmeas tomando conta da prole enquanto saímos atrás do mamute nosso de cada dia.

Mas você já parou para pensar o que aconteceria se os pais não ensinassem a seus filhos cada uma destas tarefas cotidianas? Imagine eles crescendo e sendo alimentados na boca, não recebendo estímulos motores, não indo à escola, ou seja, não se desenvolvendo. Sem dúvida alguma, em poucos anos você teria comprometido a vida inteira daquele indivíduo, que não estaria apto a sobreviver por meios próprios.
Pois é exatamente isso que nosso presidente tem feito. Sim, este é um texto sobre política. Um tema que eu adoro, discuto muito com os que me cercam, mas não tenho muito prazer em transformar em texto. Mas minha paciência está realmente curta com certos absurdos óbvios que vêm sendo ignorados pela imprensa de um modo geral. A grande massa de pobres do país não percebe o que está acontecendo porque está ocupada demais freqüentando lotéricas e Caixas Econômicas para sacar todos os seus “benefícios”. As várias “bolsas” institucionalizadas no Brasil servem com excelência a um propósito muito arriscado. Elas mantêm a grande massa quieta e hipnotizada com a certeza de uma renda mensal. O que ninguém percebe é que esta atitude está comprometendo uma geração inteira. Atitudes populistas e subsidiárias como estas comprometem 50 anos da economia de um país. Não entendeu? Acha exagero? Eu explico.
O ser humano tem uma tendência a se acostumar ao mais fácil. Especialmente o brasileiro. Não é um defeito, apenas uma característica. Queremos sempre o caminho mais curto, o jeito menos trabalhoso, a grana mais fácil. Por isso estes subsídios são tão bem-vindos pela sociedade. Só que, assim como aqueles pais que não desenvolvem seus filhos, o governo também está transformando esta massa em indivíduos cada vez menos preparados para o futuro. Continuando por esse caminho, em menos de 20 anos eles desaprenderão a pescar, porque o peixe estará sendo entregue em suas portas. E seus filhos seguirão pelo mesmo caminho.

Resolver a desigualdade social e a má distribuição de renda com subsídios é no mínimo irresponsável. O maior dano que se pode fazer a economia de um país é não tratar a sua sociedade como consumidores. A antiga União Soviética fez isso e quando tentou consertar era tarde – quebrou. A China fazia isso e está tentando correr atrás do prejuízo e mesmo assim paga pelos erros do passado. Enquanto isso, o Brasil nada na direção contrária. Tratamos nossos menos favorecidos como bebês que precisam de ajuda para tudo. E tome “bolsa”, que além de servir de meio para todo tipo de fraude, ainda deseduca o cidadão que não aprende o valor do dinheiro, o custo das coisas e noções de economia doméstica.

O caminho correto e produtivo seria dar a este cidadão a oportunidade de caminhar com suas próprias pernas, sustentar sua família com seu próprio suor. Um emprego decente com remuneração justa traria benefícios insuperáveis para a sociedade. O trabalhador tratado como consumidor aprende economia, passa a ter a real noção do valor das coisas, movimenta a economia e ganha respeito. Com dinheiro no bolso para pagar suas contas e consumir cada vez mais o cidadão ganha mais do que respeito. Ele ganha liberdade. E uma massa de trabalhadores/consumidores ganha muito mais do que isso. Ganha poder.
Pensando bem, agora essa história de subsídios faz sentido. Alguém que esteja com o poder nas mãos não vai querer dividi-lo. Nem que para isso tenha que desviar alguns trocados do orçamento para calar a boca daqueles que almejam este poder. A má notícia é que ele ainda tem dois anos e meio de mandato. A boa é que ele não poderá ser reeleito. Ou não.

2 comentários:

Unknown disse...

Mais uma vez,parabéns pelas verdades,com isso volto afirmar que vc deveria fazer jornalismo,vc seria avoz do povo,quem sabe? Seu pai leu seu blog e ficou muito feliz,mandou para São Paulo.

Ana Lúcia Prôa disse...

Brilhante! Odeio política, não discuto o assunto de jeito algum. Mas tenho que tirar o chapéu para seu texto, pq vc foi muito claro, sem ser sacal. Passou seu recado e me fez ir do macrocosmo (o país) para o microcosmo (minha família e a educação que dou a minhas filhas). Nada de fazê-las apenas saborear o peixe. Ela têm que, primeiro, pescar!

Beijos grandes!