sábado, 27 de setembro de 2008

Sufrágio ou Naufrágio?

Já disse aqui que eu não voto desde a reeleição do Lula. Parei geral. Desisti de tentar consertar. Pelo menos enquanto eu fizer parte da minoria consciente. Enquanto o imaginário coletivo continuar a ver qualidades em Inácios e Crivellas, eu abro mão do meu "direito". Aceito as críticas e nem perco mais meu tempo explicando o porquê do boicote ao sufrágio. Mas em época de eleição o assunto sempre volta e eu me forço a reavaliar minha decisão. Afinal, insistir por pura teimosia ou tradição seria uma atitude tão burra quanto simplesmente votar por obrigação.

Em geral essa reavaliação começa assistindo aos primeiros dias do horário de propaganda política na TV. Em três dias eu avalio se vou ou não sair de casa no dia da eleição. Foi o que fiz este ano. Definitivamente não dá para acreditar num país com este nível de candidatos. Até é possível pescar um ou dois bons pleiteantes ao cargo de prefeito. Infelizmente não são aqueles que disputam o primeiro lugar nas pesquisas. Mas quando descemos (com trocadilho, por favor) ao nível da câmara de vereadores a coisa complica. O festival de absurdos, idéias toscas e promessas surreais proferidas por candidatos idem, daria uma comédia e tanto. Não fosse trágico.

Podem me chamar de elitista, de besta e o que mais quiserem. Mas realmente não aceito que uma pessoa que nunca estudou na vida deva se candidatar a algum cargo no legislativo ou no executivo. Porque eles não entram no judiciário. Já pensou nisso? Por que, dos 3 poderes, dois aceitam literalmente qualquer pessoa em suas cadeiras? É no mínimo um contra-senso. É até justo e democrático que, se analfabetos podem votar, seja natural que possam também concorrer aos cargos. Acredito até que a maioria dos países democráticos permita o mesmo. A diferença é que nestes países o índice de analfabetos raramente ultrapassa os 5%, enquanto No Brasil temos índices maiores que 25% em certas regiões. E esta estatística nacional faz parte de um conjunto de falácias que considera alfabetizado qualquer pessoa que consiga escrever o próprio nome. Na prática muitos alfabetizados continuam no lado escuro das letras. Ou seja, em alguns municípios essa enorme massa de iletrados é determinante no resultado de uma eleição.

Seja sincero comigo, meu caro leitor. Se fosse dono de uma empresa e tivesse que escolher os membros de sua diretoria, quem você escolheria para tais cargos? Tenho certeza que, diante de uma pilha de currículos, você saberia exatamente quem iria para a diretoria, quais seriam os gerentes e quem ficaria responsável por servir o cafezinho pra esse povo todo. Duvido que você teria alguma dúvida sobre quem eleger como síndico do prédio onde você mora e quem contratar como porteiro. Por mais que o segundo talvez seja a pessoa que mais identifique os problemas do prédio e conheça cada morador, você não o colocaria no cargo do primeiro por falta absoluta de conhecimentos administrativos. Então porque diabos as pessoas de um modo geral não usam este raciocínio na hora de apertar os malditos botões atrás do papelão?

Podem até argumentar que na Alemanha, por exemplo, deve haver uma Verônica Costa local que se candidate a alguma coisa. A diferença é que ela não seria eleita. Claro que há casos de pessoas "fora do ramo" eleitas para cargos políticos, como o famoso caso da húngara naturalizada italiana Cicciolina, estrela de filmes pornôs que ocupou uma cadeira no parlamento da Itália em 1987. Mesmo nestes casos, o peixe fora d'água é uma exceção que não chega a comprometer o trabalho da instituição.

No Brasil as pessoas continuam sendo eleitas por todas as razões erradas. São votadas porque são artistas, gays, evangélicos, famosos e até mesmo porque simplesmente vendem pipoca há 20 anos na porta da igreja. Poucos são os que avaliam o preparo, o histórico e a plataforma do candidato. Depois a mídia fica incentivando o povo a cobrar de seu candidato eleito. Mas cobrar o quê? O povo elege alguém que nada tem a oferecer e depois acha que tem o direito de cobrar algo do Tião da Pipoca? Não posso levar isso a sério.

Este ano, não foi necessário mais do que 15 minutos de horário político na TV para reafirmar a minha decisão de continuar longe das urnas. Meu voto não vale nem o dinheiro da passagem de ônibus até a distante seção eleitoral. De qualquer modo, bom voto para vocês.

Um comentário:

Ana Lúcia Prôa disse...

Bem, estou me devendo um texto sobre as eleições tb, o qual já está mais ou menos delineado na minha cabeça, mas não consigo arrumar tempo pra postar. Mas consegui um minutinho para ler o seu. Como sempre, vc tem idéias muito delineadas e, qd o assunto é "atraso espiritual" (vide a maioria dos políticos), vc senta o cacete, hahaha! Sei que a coisa é complicada aqui no Brasil. Mas tenho medo da generalização. Falar que pessoas que não estudaram não têm direito a se tornarem vereadoras é forte pra mim. No entanto, compreendo perfeitamente seu ponto de vista e admiro seu texto, sempre ágil e ferino (mas tô sentindo falta das suas piadas, kkkk!).

Por mim, voto não seria obrigatório. Sempre pego meu ônibus até o Flamengo CONTRARIADA... O mesmo acontecerá na próximo domingo, qd preferiria mil vezes ir pro MAP!!!

Beijos, querido!